Quero a minha mãe.
Quero a minha mãe.
Chorava a criança convulsivamente enquanto batia com as mãos, os braços e as pernas no chão feito de mosaico frio.
Os avós não sabiam o que fazer.
O pai estava fora trabalhando.
A mãe estava hospitalizada fazia três meses e restava-lhe pouco tempo de vida. Uma coisa má a levaria deste mundo.
O garoto pouca contacto tinha com a mãe.
Ela tinha saído de casa ainda ele não tinha um ano de idade e seus avós é que eram sua mãe, seu pai, sua família.
O pai desiludido com o desgosto de amor dedicava-se doentiamente ao trabalho e quando não estava no emprego passava as horas nos cafés em jogos de snoocker.
- A mãe está doente no Hospital. O pai no fim de semana leva-te para a ver.
Mas a criança continuava. Olhos raiados de sangue, pele roxa de tanto gritar e chorar, parecia que lhe poderia dar algo a qualquer momento.
Passou assim uma hora completa.
Exausto e cansado acabou por adormecer ao colo de sua avó.
O telefone tocou.
Com passos calmos, conforme a sua personalidade, o avô dirigiu-se ao telefone. Atendeu.
Ouviu.
Agradeceu e desligou.
De semblante carregado fez sinal à avó que deitou a criança no sofá tapando-o com uma manta grossa e quentinha.
O garoto, meio acordado, observava-os.
Parecia que fazia uma análise fria da situação, observando-os com os seus grandes olhos castanhos.
A avó começou a chorar dizendo baixinho:
- Pobre menino. Pobre menino.
O garoto levantou a cabeça e disse:
- Avó.
Quero a minha mãe.
– silêncio –
- Avó. A mãe foi para o céu, não foi?
A avó ainda com olhos lacrimejantes, tentando disfarçar, perguntou:
- Porque dizes isso, querido?
- Eu sei.
Por isso quero a minha mãe.
Levantou-se um silêncio na casa apenas quebrado por um pequeno choro convulsivo da criança enquanto, entre dentes, dizia que queria a mãe.
Mãe essa que na verdade nunca esteve com ele como uma mãe está com a sua cria.
As horas passaram.
Finalmente chegou o seu progenitor.
Deram a notícia.
O olhar vidrado pelas lágrimas e as mãos crispadas diziam tudo.
Olhou para a criança, aproximou-se dela e disse baixinho.
- Dela, só te tenho a ti.
Afagando-lhe o rosto. Um triste sorriso na face. Uma lágrima correndo entre as covas de sua cara escondendo-se por detrás do colarinho de sua camisa.
- És tão parecido com ela, Meu Deus.
O menino, enxugando as lágrimas ao pai com sua pequena mão, respondeu-lhe.
- Não te preocupes, papá. A mamã está nos observando e não deixará que nada de mal aconteça.
Uma brisa passou, mesmo com as janelas encerradas, e os dois olharam para o vazio, abraçados, sentindo-se sós, mas ao mesmo tempo cheios de algo, de alguém. Cheios de Algo que não compreendiam.
Os avós, esses, deixaram-nos sós.
A despedirem-se.
segunda-feira, fevereiro 15, 2010
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13 comentários:
Aqui é impossível haver conversas inúteis.
Vim pra retribuir a tua visita ao meu Som&Tom e deparei com um texto daqueles.
Obrigada por ter aparecido e por me trazeres aqui.
Lindo, as crianças sabem..
bjs
Nem tenho palavras...!!!
Beijos para todos!
Olá , Tudo isto me levou à infancia, dos meus 5 anos e que ainda ouvia (sou surda desde os seis e leio nos lábios, mas faço tudo entendo tudo, enfim, sou normalissima ehhh)
E, pela primeira vez, assisti a ver uma senhora morta, preparada para ir no caixão, vestiram-na toda de preto e os filhos meus companheiros de brincadeiras, estavam ali e choravam convulsivamente! Não mais esqueci aquela cena, a dor que senti de impotencia ante os meus amigos!
Hoje sim, aceito a morte muitas vezes como uma benesse, já que esta vida é tão dorida! Entendo e sinto que já nem tenho duvidas sobre as vidas que continuam no lado de lá..
Gostei de encontrar-te, e, como nada acontece por acaso! Toma lá um jinho da laura que não é a menina das resteas agora, os anos passaram, e...
Triste...
visitei o teu blog pela primeira vez e deparei-me com este texto fantástico...Recuei três anos na minha vida e vi que la aconteceu... tambem a minha mãe partiu....e acredita que o vazio que deixou é enorme....
Parabens pelo blog! Vou voltar!
Bjs.
Este blog está nomeada para as 7 Maravilhas da Blogoesfera.
Mais informações lá no tasco!
Caro amigo,
Depois de tanto tempo, finalmente tirei um tempinho para atualizar o meu blog e linkar o teu.
Um abraço.
Que história tão triste.
Olá, então que o teu menino chegue também a ser um bom homem como é o meu, que fez anteontem 28... parece um homem ehhh apesar de alto, 1,86 e a mãe com 1,50... mas é um garoto querido...
beijinho a ti...
Amigo,
mais umas palavrinhas que nos deixam sempre presos... para quando?
Beijocas
Querido amigo, fico feliz com sua volta a meu blog. Espero que todos aí estejam bem.
Triste seu texto, imagino as marcas.
Beijo para todos.
É a primeira vez que visito o seu blogue...
Este texto pôs-me a chorar.
Obrigada pelos sentimentos que desperta.
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