Portugese Love Theme - Craig Armstrong
Era uma vez. Como muitas das vezes. Ou foi uma vez. Ou é. Depende da maneira de ver as coisas. Mas neste caso coloquemos “Era uma vez”.
Era uma vez uma jovem muito jovem apaixonada pela vida.
Não pela sua vida, mas pela vida em geral e tudo o que poderia dar de si! Apaixonou-se muito jovem pela vida e por alguém que seria uma parte importante na sua vida. Esse alguém correspondia à paixão. E para ele, ela era a luz dos seus olhos, o realizar dos seus sonhos, o culminar do desejo convertido em realidade.
Para ela, ele era o seu príncipe encantado. O amigo de todas as ocasiões. A mão que podia agarrar, o ombro em que podia chorar, a figura que a ouvia desabafar, a criança com quem podia brincar.
E também se amavam.
Eram muito jovens e viveram um para o outro desde muito cedo. As famílias acharam graça, nem aprovando, nem desaprovando.
E assim cresceram.
Juntos, unidos como se de duas almas gémeas se tratassem.
Já jovens adultos viram a hora de dar um passo importante nas suas vidas. Iriam colocar no papel o que eram quase desde que nasceram. O ser uma família, um casal.
E assim o fizeram. A partir daí ainda com mais força deram-se um ao outro, vivendo a vida, nem que fosse gozada simplesmente e apenas por eles dois, a sós na penumbra do quarto explorando os seus corpos, no sossego do lar passeando pelas suas almas, na acalmia do seu bairro correndo pelos jardins e ruas.
Mas faltava algo. Algo que representasse aquele amor que sentiam um pelo outro. O que sempre imaginaram. O que sempre desejaram. Ter um filho. Um filho que pudessem dizer em voz alta e com muito orgulho “É nosso, é o fruto do nosso amor”.
E assim foi. Colocaram em prática o desejo.
Mas a vida é feita de mistérios e esses, são mais fortes que o desejo.
Dias tentaram, meses forçaram, anos passaram... e o filho desejado não chegou.
Visitaram médicos, instituições, tudo tentaram e descobriram que o filho desejado não os poderia visitar. Tudo porque os seus corpos não permitiam.
Foram feitos um para o outro, isso tinham a certeza, mas a natureza não permitia que dessem frutos.
Foram designados para se amarem um ao outro e nada nem ninguém se iria interpor.
Nem um filho.
A tristeza cobriu os seus corações.
Ela, continuou a demonstrar a alegria pela vida mas por dentro tinha rios de lágrimas.
Ele, morreu a pouco e pouco e fechou-se num casulo feito de água de sal e tristeza. Deixou quase de falar e refugiou-se nos livros e no trabalho.
E ela apenas nos seus olhos, no fundo dos seus olhos via que ele ainda a amava.
Foram vivendo com essa tristeza e amargura. Sós, mas juntos. Tristes, mas com muito amor reprimido. Muito amor para dar!
Até que se lembraram de algo. Se não podiam ter um fruto do seu amor, ninguém lhes podia negar um filho não biológico, um filho afectivo.
Um filho deles!
E a esperança renasceu. O amor floresceu como flores de cerejeira brotando nas suas almas!
Iam adoptar uma criança. Uma linda menina. Teria no máximo quatro anos. Seria sã e seria a filha que sempre desejaram!
Uma menina que voltaria a dar alegria e conforto ao lar.
E esperaram!
Estava próximo. Que estivessem descansados que não tardava a receberem a desejada. Assim lhes diziam.
E os dias foram passando, os meses cavalgando, os anos sulcando... e a menina não apareceu. Não lhes foi entregue!
O que se passava? Porque não lhes era entregue a menina se era tão desejada, tão querida, tão amada?
Que não se preocupassem que ela havia de chegar, era um processo moroso, muita burocracia, muito problema em papel e tinta!
E assim foi o tempo passando , sem a alegria de uma criança.
A criança que sempre desejaram. Ainda eram eles crianças e já sonhavam com ela.
Rezaram, oraram, choraram e a criança nem com eles, nem com os Homens, nem com Deus.
Não vinha esta noite, não estava lá de manhã, não preenchia os dias vazios.
E ela voltou a ficar carregada de lágrimas escondidas, mas continuando a mostrar ao mundo que a vida nela não tinha morrido.
Ele novamente se fechou num casulo esperando que algo o tirasse de lá. Os transformasse em borboletas. Lhes dessem cor às suas almas apagadas e cinzentas.
Quando a esperança está quase a morrer há sempre um raio de luz que ilumina tornando os verdes mais fortes, mais brilhantes.
E esse raio de luz chegou numa manhã chuvosa, cinzenta e triste. Receberam uma chamada a informar que iriam receber a menina muito em breve. Que tivessem o seu quarto pronto, cheio de cor, brinquedos e amor, que ela estava a chegar.
E colocaram-se ao trabalho. Compraram latas de tinta de mil cores, brinquedos cheios de vida e libertaram o amor pela casa, pelas paredes, por todos os lados.
E esperaram... esperaram.... esperaram... e nada!
Ter-se-ia perdido algures nas suas vidas? Teria escolhido ter outros pais?
Ou eles, aos olhos de Deus, não deveriam ter mesmo filhos?
Sentiam-se a ser consumidos por dentro, tal a amargura!
E descobriram algo que não poderia ser descoberto! Algo que nunca deveriam ter sabido. A menina que eles tanto desejaram esteve mesmo à porta de sua casa, mas não entrou porque os médicos descobriram que a menina tinha uma doença muito grave. Tinha poucos meses de vida.
Deus preparava-se para a levar!
Mas porquê? Deus era tão cruel que tinha de colocar uma doença na criança só para eles não darem o amor que tinham para dar?
E as cores do quarto começaram a perder o brilho, a luz, a vitalidade. Os brinquedos deixaram de trabalhar, de funcionar. E novamente o amor se recolheu fundo nos seus corações.
Mas a promessa de receberem a criança mantinha-se.
E assim foram vivendo.
Com a tristeza e esperança ocupando cada cantinho dos seus corações, despedaçados pelo correr da vida, mas esperançados que ela estivesse ali, tão próxima que bastava estender a mão para ela a agarrar dizendo: Mãe, Pai, estou aqui. Sempre estive! E onde quer que eu tenha estado, sabia que me esperavam e... nunca deixei de vos amar!
50 comentários:
linda historia! adorei lê-la!
É um processo pelo qual me recuso a passar. E espero que seja apenas uma história...
Abraço.
Ainda não te li, na posso agora, a pariga vem almoçar daqui a nada enquanto deixa as células do laboratório em banho maria, ehhh e so te digo atã na fiques quedo, mudo nem tristinho...ja ca volto mais logo, amo a ti e so isso que te tire do estadod e tristinho mudo e quedo..laura..i love you.
Há vidas assim, reais, pode-se contar um conto assim, como este, mas a verdade está ai...Foi pena, foi sim, e o amor que albergaram neles pela menina que não chegou a vir fazer parte de suas vidas, é certo..ela ama-os mesmo do lado de lá, ama-os sempre porque iria fazer parte de suas vidas e se não fez! foi porque não tinha de ser...Que o casal do sonho, possa ainda ter a ventura de receber um filho numa outra altura qualquer de suas vidas...
Mas não quer dizer que; casal sem filhos não é feliz...é sim senhora, livram-se de tantos problemas que sei lá!...Beijinhos.
Não deveria acabar com "e foi feliz para sempre!"?
Roderick.
Na minha vida é assim mesmo.
Um abraço
Conheci um casal exatamente assim. E a menina adotada, linda, linda, de um olhar supreendentemente inteligente, se apagou devido a um vírus que a fez totalmente dependente dos pais e nem sei se ainda vive.
Não deveria acabar com "e foi feliz para sempre!"? [2]
Lembrei do livro "O caçador de pipas", de "Amir" e "Soraya".
Na vida de todos nós sempre há provações, algumas maiores ou mais brandas...
Abraço.
PS: Cá no Brasil é muito comum esta expressão:beijo para quem é de beijo e abraço para quem é de abraço.... É corriqueiro e usado largamente.
Mas a expressão pá só na música de Chico Buarque mesmo. A maioria nem sabe do que se trata. Só mesmo quem tem amigos ou parentes portugueses sabe o significado.
Os processos de adopção são morosos e burocráticos mesmo! Nos casos que conheço demoraram entre dois anos e meio e quatro!
Beijocas e bom fim de semana!
Tenha uma boa tarde, meu querido.
Um belo e triste conto. Quando o casal chega a conclusão que poderia sentir-se pleno com um filho de coração eis que a burocracia da adoção impõe-se. Quando finalmente cumpre-se todos os tramites para adoção e a criança está a caminho, descore-se que o tão esperado filho tem uma doença incurável...que azar, hein!
Beijos.
Bom sábado,
Bom descanso
Bom dia de compras
Bom dia de amor e paz
Bom dia de frio também, e, mais nada, vou andar pla cidade...acompanhas-me? beijinhos.
Meus amigos venho me desculpar pela falta de resposta entre seus blogs..estava malz de gripe mas ja estou melhorando.....
Li esse texto muito lindo mesmo...vemos a importancia de acreditar....
abraços
Roderick. Estava a preparar-me para dar um papo de conversas inúteis, mas não estavas.
Esteve na exposição - Palácio dos Ciprestes - Fundação Marques de Pombal.
Local aprazível, onde as crianças dão aso às brincadeiras.
Vi-me aflito, mas achei-o.
Assinei o livro
Um abraço
Oi Roderick.
Triste, mas um belíssimo conto.
Para o seu casal, a chegada de uma criança seria a "coroação" do amor deles. Infelizmente, não foi possível e nem sempre o é. Era o que eles queriam tanto, mas só conseguiram tristeza.
Talvez não fosse para ser. Pena!!
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Será que não aprendeu que quando você começa uma história com "ERA UMA VEZ..." tem que terminar com "E VIVERAM FELIZES PARA SEMPRE!"? :-)
BOA NOITE PARA VOCÊ E BOM DOMINGO!
♥.·:*¨¨*:·.♥ Beijos mil! :-) ♥.·:*¨¨*:·.♥
http://brincandocomarte.blogspot.com/
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Seria ainda mais bonito de se ler se não fosse uma realidade que, ainda hoje, povoa aqueles que querem ser pais mas a burocracia não deixa.
1 bjoca
Pois é, há quem tenha filhos e nem os queira, há quem não os tem e tudo faz para os ter...a historia do meu amigo joãozinho, era assim, mas, ele tá aqui, lindo, lindo..um rapazote de 8 anos...beijinhos.
e a exposição como decorre?
Cabeça no ar, obrigado
Rafeiro, não, não é apenas uma história. É uma história de vida como muitas outras, mas não é uma estória!
Laura, não quer dizer que a menina não venha, mas está dificil e assim sofrem, não é?
Teresa, esta história ainda não acabou!
Zé do cão, és adoptado?
Senhora, pobre criança!
Michele, a história ainda não acabou, está a decorrer neste momento. Eu é que não sei o final!
Exterminador,´"pá" é um termo que se usa em Portugal,mas é principalmente originário de um bairro tipico de lisboa. No resto do pais não se usa. Mas, claro, que se for usado pelo país, as pessoas entendem, mas é grosseiro normalmente!
Laura, tive um fim de semana super preenchido. Beijinhos
Philip, com gripe ainda é melhor para navegar nos blogs!
Zé do cão, se tivesses dito, tinhamos tentado lá estar. Gostaste do que viste?
Sorriso, mas continuam a tentar. O problema é a maldita burocracia!
Alexandra, o que está ali é real. Kisses
Laura, deve estar a decorrer bem. Como é colectiva, só sabemos se há novidades no fim da mesma!
Beijos
Roderick.
Sim senhor, gostei do que vi e aconselho a visitarem. Não sabem o que perdem.
Um abraço
Já agora, não sou adoptado, não.
Zé do Cão. Quando a Ana fizer uma exposição individual (30 de maio é a inauguração da próxima) aviso atempadamente!
E adoptaste?
Ó meu troca tintas...quem foi que inventou a saudade, quem foi? o vira lata diz que foste tu pra darmos porrada no gajo...em que ficamos, ai que te desfaço, quem foi, quem foi, apresente-se o acusado!...
Já tenho saudades de dar uma coça num saco de pulgas! ahahahahahah
ahhhh, saco de pulgas? deixa que ele te leia... ele tem de se coçar mais, foste arranjar sarna pa te coçares, espera ai...ahhhhh
ahahahahha
Saco de pulgas, mas com todo o respeito!
AHAHAHAHAHAHAH
Jamais supus que pá fosse um termo grosseiro, pois vejo pelos blogues uns chamando aos outros de pá...hahahahaha!
B. Pois é, pá, tens toda a razão, pá. Mas é, pá.
ahahahahahahah
nossa...q triste...=/
obrigada pelo gorgeous!
heuheue
Linda história. A cada linha lida, mais eu queria continar.
Sabe, meu maior sonho é ser mãe, espero logo almejar meu tão esperado sonho. Pode ser que leve dias, semanas, meses ou até anos, mas nunca se pode perder as esperanças.
E não uso lente. Meus olhos são cor de mel, mas boa parte do tempo ficam assim, meio verde.
Bonitos?
Boa semana.
Se cuida.
Beijos*
Oiiii! Meu blog mudou!
Agora é esse aqui: www.peripeciasdatatah.blogspot.com
Obrigada a todos que NUNCA me abandonaram e estiveram do meu lado mesmo depois do meu afastamento!
Quem me acompanhava, peço que acompanhem no outro e saiam do antigo tá?
e agora.. VAMO QUE VAMOOO que eu to de volta!
beeeijo
De nada Lady, sempre às ordens!
Lindos, Juliana!
Ok, Tatah, obrigado!
gap generation?
Obrigada!!! (vergonha), rs.
Pode deixar, vou tentar caprichar, para sair bem linda e namorar seu filho :)
E sobre a cirurgia, quem olha não quer mais fazer.... eca, hehehe.
.beijo grande.
Aguardo ansiosamente, Juliana. Beijinhos
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