terça-feira, fevereiro 09, 2010

A mulher que gostava de bacalhau

Hilária Alameda, mulher simples do povo, ria a bandeiras despregadas onde quer que estivesse e com quem estivesse.
Tinha o gosto por revistas cor de rosa, cheias de fofocas sobre reis e rainhas de terras distantes e gostava de se vestir na moda que a sociedade ditava.
Loura por meios artificiais, baixinha e redonda vivia na sua imaginação aqueles tempos em que fora magra, bela e loura de nascença.
Mas Hilária tinha um grave problema. Gostava de comer bem e muito!
Lambia-se por tudo o que fizesse mal ao seu organismo! E depois chorava porque não conseguia emagrecer.
Certo dia Hilária saiu do emprego para ir almoçar. Foi com uma colega e amiga. Resolveram ir a um restaurante típico que existia na zona: Mal Hilária se apercebeu que um dos pratos era bacalhau, fez logo ali de imediato, a sua escolha na iguaria a degustar. Hilária era doente por bacalhau. Fosse de que maneira fosse. Pediram ambas um prato de bacalhau confeccionado à maneira da região! Foi falando e comendo, falando e bebendo, falando e comendo, e comendo, e comendo... Não sendo a colega de grande alimento, quando Hilária deu por si... tinha devorado o bacalhau quase sozinha!
Voltaram ao emprego e quando chegaram Hilária vinha muito vermelha, cheia de calores e já tinha desapertado a camisa de tal maneira que se tivesse pelos na barriga de certeza que os colegas veriam!
Sentindo-se mal foi à casinha para se refrescar. Uma colega solícita foi com ela, mas Hilária de tão mal disposta não aguentou e largou tudo o que tinha comido em cima da colega.
Largou tanto, tanto, tanto que ficou novamente esbelta como quando era jovem!
Nem queria acreditar. Aquilo tinha algo de mágico. Ficara mais bela, mais linda do que fora. Maravilhosamente bela. Mas... Sempre há um mas... Cheirava a bacalhau... um fedor horrível!!!!
Mas Hilária não se importava. Queria ser a todo o custo uma beldade estonteante!
Partiu para o restaurante saindo a meio do trabalho, para falar com a dona do restaurante, Juliana Urticária!
A mulher, agoniada pelo cheiro que hilária exalava, disse que achava aquilo estranhíssimo mas talvez tivesse sido do prato que lhe serviu porque tinha sido feito com um pequeno bacalhau que tinha sido comprado nas docas, tendo vindo directamente dos Mares do Norte.
Hilária ao ouvir isso partiu para as docas e conseguiu saber exactamente qual o barco que tinha vendido o peixe e qual o local onde foi pescado.
De imediato levantou todas as suas economias, comprou um pequeno barco e partiu em busca daquele alimento, louca de desejo de juventude!
Hilária nunca mais foi vista e a partir daí nasceu uma lenda entre os pescadores. Dizem que em noites de nevoeiro ou de tempestade nos mares do norte, conseguem ouvir gargalhadas de mulher e um cheiro a peixe nauseabundo no ar.
Contam que foi uma bela sereia que casou com o Rei Bacalhau, dos mares do norte, em troca da eterna juventude!
Mas nós sabemos que é Hilária rindo da sua boa sorte por ter ficado para sempre bela!
O pior era o cheiro a bacalhau!
E ainda hoje a colega tenta lavar o cheiro com que ficou após Hilária lhe ter vomitado em cima... e não consegue!

(Roderick tales / Contos de Roderick)

32 comentários:

A Borboleta disse...

Bravo, Bravissimo!

Conversa Inútil de Roderick disse...

Obrigado, Borboleta!

Agulheta disse...

Roderick! Já imaginaste como seria dos que gostam de bacalhau? a maioria é português...desapareciam todos?eheheh
Beijinho

Conversa Inútil de Roderick disse...

Agulheta, pois é!! Eu também desaparecia.
E nem banhos ou perfume tiraria o cheirinho que o dito cujo deixava. eheheheh

RPM disse...

olá meu amigo!

esta do bacalhau é publicidade à Noruega.....

um abraço grande

RPM

Conversa Inútil de Roderick disse...

RPM, pode ser que com a publicidade eles nos vendam o dito cujo mais baratinho!

Laura disse...

Atã junte-lhe umas natinhas, batatas fritas aos palitos,e se tiver dois dedos de camarões, melhor... bote no forno e vai ver que o cheirete fica divino..aquilo só precisava de uma cozedura, ahhhhhh.
Estes nomes que lhes dás, e nós a falar no fado Hilário....bela história. um xi de mim.

Conversa Inútil de Roderick disse...

Beijinhos, Laura. Com a tua mão ficava um acepipe! Estava a pensar em ti e... aqui estás!!!

Babi Mello disse...

Olá vim agradecer o comentário no meu blog e fui acessar o seu e dei de cara com o post de despedida.
Vou visitar sempre aqui.
Abraços!

Conversa Inútil de Roderick disse...

Obrigado pela visita, Babe.
E farei o mesmo. Visitar-te-ei.
Mas... qual post de despedida?

Babi Mello disse...

do seu outro blog hamadriade, acho que assim que escreve.
Bj!

Conversa Inútil de Roderick disse...

Baibi, ah!!!! O Hamadriade. Esse acabou há muito tempo! Mas achei que não o devia eliminar!

Rafeiro Perfumado disse...

Eu só teria acrescentado uma coisa:

"Loura por meios artificiais, baixinha e redonda por meios naturais"

Abraço!

Conversa Inútil de Roderick disse...

Boa, Rafeiro!!! ahahahaha

Teté disse...

Estás mesmo numa de fantástico, não é?

Gostei, sem adulação nenhuma, ainda estive para comentar que era um bocadinho obsceno falar do bacalhau da Hilária, mas desisti... Oops! Descaí-me? ;)

Beijoca!

Conversa Inútil de Roderick disse...

Teté, depois do galho do pessegueiro tinha de vir... o bacalhau! ahahahah

Rose disse...

lIMÃO NÃO RESOLVERIA O CASO?
rsrsrsrsrrsr, um grande beijo, amigo.

Conversa Inútil de Roderick disse...

Limão, Rose? Não azedava????

Anónimo disse...

:))))))

Você não tem jeito! :))

Fiquei é com pena da amiga da Hilária. Eca!

Beijinhos.

Conversa Inútil de Roderick disse...

Senhora! É verdade. A pobre não tinha culpa de nada e...
Não tenho jeito mesmo. eheheh

o¤° SORRISO °¤o disse...

Oi Roderick.

Hilário!!

Bem, se casou com o Rei Bacalhau quem liga para o fedor? É até um perfume... :-) Até eu ficaria dando gargalhadas.

Mas, alguém tinha que sofrer nesse conto e foi logo a coitada da amiga que agora ficou pra lá de fedida. Aiaiai!

Alegria de uns e tristeza de outros.

BOA NOITE E BONS SONHOS!

♥.·:*¨¨*:·.♥ Beijos mil! :-) ♥.·:*¨¨*:·.♥

Laura disse...

Tão quando cá vieres; sai um bacalhauzinho com natinha à moda da dona laurinha, é divino...hum...tem de levar camarõezinhos frescos para extrair o saber através da fritura em azeite, senã nã sabe a nadica...

Deixa o tempo passar
deixa o sol arejar
e temos um petisco destalar...

beijinho de mim.

Conversa Inútil de Roderick disse...

Sorriso, pode ser que o rei bacalhau tenha um irmão e case com ela!!!!!

Conversa Inútil de Roderick disse...

Laura, espero que o bacalhau de que falas não seja o marido da Hilária, senão a senhora fica viúva!!! eheheh
Beijocas

Carla disse...

Fabulosas as tuas histórias. Lindo o que contas de uma forma tão sui generis
Beijos e bom Carnaval

Conversa Inútil de Roderick disse...

Obrigado! Um bom Carnaval para ti. Beijocas

Pascoalita disse...

Caramba!
Ninguém se lembrou de avisar Hilária que ...


"O bacalhau quer alho"!!!

Conversa Inútil de Roderick disse...

Pascoalita! Se calhar era isso que a Hilária procurava em segredo!!!! ahahahaha

Alexandra disse...

Beleza, a quanto obrigas?!

Como estamos num país apreciador de bacalhau, ainda bem que lhe deste um final fedorento. Vê bem se todos resolvessem adoptar a receita???? ehehehe

Bjocas

Conversa Inútil de Roderick disse...

Alexandra. Ninguém podia andar na rua tal o cheiro!!! eheheh

bat_thrash disse...

Hahahaha...muito bom, Roderick!
Adoro os nomes de suas personagens e o desfecho de suas histórias.
A hericunda Raineta fez uso de ervas e virou uma cobra e a Hilária Alameda virou uma sereia esbelta, mas com uma murrinha insuportável...LOL!
Beijos.

Conversa Inútil de Roderick disse...

Beijos, Bat!