terça-feira, novembro 24, 2009

Amores verdadeiros

Absorta nos seus pensamentos, de cigarro aceso na mão, mirava com um olhar vazio o copo à sua frente! Já tinha prometido a si mesma que deixaria de fumar. Mas nunca o conseguira! Maldito vício que não a largava! Ainda tão jovem e bela mas... só isso não a deixava. Quanto ao resto era o que se via! Não conseguia amar sem ter um desgosto. Não conseguia se dar sem perder o outro! Via à sua frente uma vida vazia, sem esperança de envelhecer com alguém a seu lado. Alguém que ela pudesse amar e dar tudo de si a essa criatura!

Distraidamente, como qualquer frequentador de bar faz, olhou à sua volta. As mesmas caras, as mesmas pessoas, todos os dias, todas as noites à volta de um copo ora meio vazio, ora meio cheio.

Até que reparou nele. Nunca o tinha visto. Ou talvez nunca tivesse querido reparar nele. Não, nunca o tinha visto mesmo. Era uma cara nova. Alguém que resolvera entrar e sentar-se mesmo em frente a ela do outro lado do balcão!

Reparou nos seus olhos. Brilhavam. Mas estavam tristes. Mas... olhava-a directamente ! Sentiu atrapalhação.
Observada! Mas ao mesmo tempo atraída por aquela alma errante! Tornou a olhar para ele. Colaram os olhares. Ele sorriu. Um sorriso triste com aqueles grandes olhos doces. Ela tentou sorrir! Viu-o levantar-se. Sentiu-se incomodada mas ao mesmo tempo ansiosa! Deu a volta ao bar e sentou-se a seu lado. Por sorte a cadeira estava vaga. Pediu licença antes de ocupar o lugar. Pediu o mesmo que ela bebia.

Olharam-se. E naquele momento aquele olhar valeu mais do que mil palavras.

Absorto nos pensamentos, de copo na mão olhava e observava a bebida a ondular no vidro do copo que tinha entre mãos, bebida que nem sequer tocara os lábios. Era naquelas alturas que gostava de ter tido um vício. Um vício que matasse, como o tabaco ou o alcool. Mas não! Nada disso possuía e o que tinha, o que tivera, um grande amor, alguém lho tirara. Alguém divino, que resolvera chamá-la para junto dele!

Agora, já com uma idade bastante avançada, a seu ver, sentia-se só, triste e sem ninguém com quem falar, com quem discutir, abraçar ou simplesmente olhar como se olha para uma bela flor!

Nunca tiveram filhos. Ambos concordaram em não os ter. para gozarem melhor a vida. Passearem, viajarem, divertirem-se... e agora... nada disso interessava, sentia que na sua vida sempre houvera um vazio que seria impossível de preencher!

Enterrado nos seus pensamentos, olhou em frente, como se de um verdadeiro frequentador de bares fosse, e foi nessa altura que a viu. Bela, jovem, linda de morrer, mas ao mesmo tempo triste, melancólica... e só. Como ele.

Cruzaram os olhares. Foi apenas um momento, mas as suas almas sentiram-se ligadas. Porquê? Não o sabia. Mas algo lhe dizia que aquela jovem que estava ali sentada, só, triste e vazia de vida, era a sua alma gémea. Tão diferente de quem amara, mas a sua alma gémea.

Apanhou coragem, levantou-se e tomou o lugar junto a ela. Pediu licença para o fazer. Pediu a mesma bebida que aquela bela jovem tomava. Devia ter quase uns vinte anos a menos que ela. Ele que agora galopava incessantemente para os cinquenta.

Olharam-se. E naquele momento aquele olhar valeu mais do que mil palavras.

Amara-o como nunca amara nenhum homem na sua vida. Vivera com ele estes últimos trinta anos, sempre cheios de amor e felicidade por se terem encontrado. Por terem descoberto, novamente, a vida.

Agora sentava-se a seu lado. Ao lado de uma cama de hospital onde ele com os seus oitentas, e uma doença incurável, agonizava, esperando apenas que a fria mão da morte o levasse para longe.
Iria ficar novamente só e isso custar-lhe-ia imenso. Não sabia como viver sem ele a seu lado.

Lembrava-se perfeitamente dela. Da sua beleza. Do primeiro momento quando a vira. Daquela noite em que pensara dar um término à vida.
Rejuvenesceu-o, deu-lhe novo alento, fê-lo ver novamente o que era o amor. Mas estava próximo o momento da despedida.

Do outro lado, a sua primeira, o seu primeiro grande amor, olhava-o com os mesmos olhos doces e ternos. Esperava o seu último sopro para que voltassem a estar juntos. Para que ficassem ambos a pertencer à energia do Universo.

Quando ele partiu, fê-lo com um sorriso nos lábios e de mão dada a ela. Chorou e sentiu-se só. Novamente. Naquele mundo triste e cinzento que não tinha nada mais para lhe dar.
Não aguentou muito.
Largou a mão daquele corpo inerte e sem vida. Dirigiu-se à janela do quarto do hospital, quarto que se encontrava num oitavo andar e não esperou. Lançou-se no vazio esperando que ele estivesse à sua espera no fim do salto.

Esperava-a. Mas não estava só. Vinha com uma bela mulher que apenas vira em fotos de álbuns cheios de recordações.

Sorriram para ela.

Ela também sorriu.

Entendeu que o amor é isso mesmo. Universal. Pleno e cheio de ternura. Para a eternidade.

Seguiram as suas novas existências de mãos dadas. Para todo o sempre.

Nunca mais se separariam.

domingo, novembro 22, 2009

Primavera no Novo Mundo



Primavera no Novo Mundo
Óleo em Tela de Ana Garrett
0,60 x 0,60
Excerto de conto de Paulo Roderick

(…)


Todos cantavam belas canções e poemas à Fada Rainha Mãe.

Pequenos animais da floresta carregavam belas e singelas prendas para ofertar Laureanna.

Estavam lá, vindos de todos os cantos do Reino de Luz, Fadas da Floresta, das Nuvens, dos Lagos, das Montanhas, Elfos, Unicórnios, Faunos, Gnomos, Centauros e muitas outras criaturas.

Sete pratos foram servidos, sete canções foram cantadas, sete poemas foram ditos, sete beijos foram dados, sete danças foram tocadas.

Até o mortal, paixão de Adrianna, dançava em campos de papoilas!

Tudo para saudar e celebrar o nascimento de Laureanna. Laureanna parecia que tinha perdido o dom da audição, tão inundado estava o seu cérebro, de alegria. Mas não tinha perdido o outro dom. Mais importante para ela.

O dom de ver quem a amava... Estava entre os seus...

(…)

quarta-feira, novembro 11, 2009

Recordações



"Recordações"
Óleo em tela de Ana Garrett
0,70 x 0,50
Excerto de conto de Paulo Roderick

(…)


Invadia-me os sonhos, a imagem de Adrianna, ou Anna como lhe chamava na intimidade!

Por vezes ainda acordo a sorrir pensando que regressou do mundo dos mortos e tudo foi um sonho!

Nessas alturas a dor de alma é maior, tamanha é a desilusão.

Nunca mais encontrei ninguém como ela, essa fada diáfana de mil cores e desejos!

Tive a sensação de a ter encontrado a partir do momento em que uma misteriosa mulher me escrevia, deixando debaixo de uma pedra, as suas palavras de amor!

Fiquei louco de desejo e paixão. Mas nunca nos encontrámos!

Desisti de procurá-la há anos.

No início ainda desesperei, pensando ter encontrado Anna, nessa mortal, mas fora uma quimera que não deu fruto! Hoje, à distância, penso que poderá ter sido imaginação minha ou alguma brincadeira dos seres elementais.



(…)

segunda-feira, novembro 02, 2009

Nova Era (Hordas de elfos loucos)

Hordas de elfos loucos, sanguinários, sequiosos de vingança, desceram montes, montanhas, cruzaram vales, planícies, entranhas, saíram de florestas, bosques, matas, patranhas, de milhares de lugares incertos…
Hordas de criaturas aladas cruzaram céus, encheram horizontes, vieram de Nascente, nasceram de Poente, surgiram num repente, vieram de um quase nada, encheram um quase tudo…
Hordas de seres encantados cruzaram mares, terras, ares, lutaram contra ventos, marés, tormentos, debateram-se contra correntes de insensatez, contra o Homem e sua altivez…
Hordas do nada, do puro suposto imaginário encheram a Civilização do Homem, a terra dos humanos, o mundo da escuridão, a criação do homem, filho de Adão…
Vieram em busca do tempo perdido, em busca do tempo antes que fosse perdido, antes que perdessem o tempo, clamaram, reclamaram o direito, o lugar que lhe era pertença, o que era sua herança…
Chacinaram, mataram, retalharam, devoraram corações impuros, polutos, sujos, corruptos, mentes loucas insanas e cruéis do guerreiro homem…
Do Mundo do Filho de Adão apenas ficou aqueles puros de coração, limpos de alma, apenas ficou os que tinham direito de ficar, poucos homens… e… crianças, milhares, milhões, sem conta, corações belos e maravilhosos que receberam de braços abertos, mãos vazias e peitos cheios de alegria aqueles seres encantados, de triste fado, cantados em velhas epopeias, queimados em antigas fogueiras e que apenas reclamavam um lugar neste mundo que outrora fora seu e que cada vez mais se refugiavam na escuridão, na tristeza, no esquecimento, no mais negro da natureza, um buraco sem fundo, sem retorno, supostamente protegidos da maldade do Adão Guerreiro que até esses recantos quis para ele, bicho de ganância… ganhando o nada e perdendo...o tudo!
E uma nova Raça nasceu!