tag:blogger.com,1999:blog-194176972024-03-14T04:08:48.890+00:00Conversas inuteis/Art painting(Contos de Paulo Roderick)Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.comBlogger112125tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-83300704326905128432010-03-06T14:46:00.000+00:002010-03-06T14:46:55.336+00:00Aroma de FlanelaBebia o sabor e aroma da flanela quente e cheia de odores de infância naquelas noites escuras e silenciosas, nas visitas de fim de semana à sua avó velha, bisavó que de nome apenas era, simplesmente, velha.<br />
Não de velha, velha. <br />
Velha de doçura e amor. <br />
Velha de protecção e de rugas que contavam muitas histórias. <br />
Histórias e estórias de uma vida. <br />
De muitas vidas reunidas numa só. <br />
Histórias que já tinham rugas. <br />
Rugas daquelas de quem já tinha vivido muito e muito mais tinha para contar.<br />
Com os seus pequenos e grandes olhos perscrutava o horizonte daquele quarto cheio de penumbra. <br />
Doces silêncios enchiam o ar enquanto observava as sombras de tudo o que o rodeava.<br />
Sentia-se bem. <br />
Quente e protegido. <br />
Com uma paz na sua alma que o levava ao encanto e descanso nos braços de Morfeu.<br />
Asssim eram as noites na casa de sua bisavó.<br />
Plenas de doçura e encanto revolto em velhos lençóis de flanela.Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com18tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-1155078951240054132010-03-01T23:06:00.001+00:002010-03-01T23:15:19.903+00:00Homenagem a quem nunca conheci<a href="http://photos1.blogger.com/blogger/3581/1921/1600/Homenagem.jpg"><img alt="" border="0" src="http://photos1.blogger.com/blogger/3581/1921/400/Homenagem.jpg" style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center;" /></a><br />
<br />
<br />
Hoje fui a um velório.<br />
De alguém que nunca conheci.<br />
<br />
Muitas, mas muitas flores. <br />
Se a quantidade de flores for reciproca com a bondade humana, de certeza que foste um grande Homem.<br />
<br />
Mas não eram apenas flores. <br />
Delas emanavam paixão, amizade, mas também tristeza de te ver partir.<br />
Eram todas belas. <br />
Escolhidas com cuidado. <br />
Com Amor.<br />
Com o cuidado de quem se quer bem.<br />
<br />
Com toda a certeza, foste um bom amigo para os Teus. <br />
Com T grande, porque estiveram lá todos. <br />
Para dizer um até sempre, Um Adeus, Um Até Breve. <br />
Via-se no Olhar, na Lágrima, na Palavra por dizer, nos Gestos.<br />
Nunca te irão esquecer.<br />
<br />
<strong>Saudades Etéreas </strong>para quem não te conheceu.<br />
Mas serão <strong>Saudades Eternas </strong>para quem te conheceu.<br />
Para quem conviveu e caminhou ao teu lado. <br />
E todos os passos que deste na tua vida.<br />
<br />
Até à tua última morada.<br />
<br />
Onde agora estás, farás novamente amigos.<br />
Verdadeiros.<br />
Como aqueles que aqui deixaste, com saudades plantadas.<br />
Não será dificil para ti.<br />
<br />
Deus chama para junto dele quem mais quer.<br />
<br />
Fiquei triste.<br />
Não só pela minha amiga o estar.<br />
Mas por não te ter conhecido.Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-88657691530616998592010-02-22T00:23:00.000+00:002010-02-22T00:23:10.117+00:00Numa qualquer Sala de EsperaCalma e triste, estava a senhora.<br />
Olhos verdes mas baços, da idade.<br />
Sentada na sala de espera fixava a saída com a esperança de o ver entrar.<br />
Uma última vez. Na sua vida.<br />
Sem vontade de chorar fosse de tristeza ou de alegria.<br />
Apenas estava. Apenas se mantinha.<br />
Agarrada àqueles pensamentos de tudo o que se passara.<br />
Pensamentos repletos de palavras sem som que a língua já não emitia, que a boca já não bebia.<br />
Trevas ocultas na luz que a rodeava. Os seus pensamentos do outrora.<br />
Esperando naquela sala de espera por tempos que já não voltavam, ali estava, olhando a porta de saída da sala de espera como se esperasse que ele voltasse e entrasse por ela, para se sentar a seu lado, para a noite resplandecer como o dia no alvorecer.<br />
Sentada sem nada ver, ali se mantinha, ali esperava, estagnava, até que a porta se abrisse... uma última vez.Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-35284151453170748202010-02-20T22:52:00.000+00:002010-02-20T22:52:35.627+00:00O passado ficara lá atrásEntrou, querendo estar calmo e sereno, naquela casa que fora sua, durante alguns anos da sua vida.<br />
Olhando para o chão de mosaicos claros e paredes de estuque da entrada, recordou retalhos de uma vida que ali passou. Uma vida cheia de alegrias no presente e de esperança no futuro.<br />
As paredes já perdendo a tinta não tinham a vitalidade de outrora. Perdera vida, perdera força. Como tudo.<br />
Dando alguns passos, aventurou-se um pouco mais e observou pela porta do que fora uma sala, as janelas baças e foscas da humidade e sujeira de anos vazia.<br />
Cheirava a bafio, a sujo, a guardado. Tudo cheirava a tristeza.<br />
Na cozinha, nada restava. Apenas um exaustor e extractor de fumos que, avariado, tinha ficado para trás, após a mudança.<br />
Na casa de Banho, um pequeno rato fugira assustado para um buraco na parede, ao sentir a sua presença, ficando à espreita com os seus pequenos olhos habituados à escuridão!<br />
Chegou aos quartos. Um carrinho de bebé ainda repousava no chão de soalho flutuante o que o levou a recordar a beleza daquele, outrora, quarto de criança.<br />
No quarto principal, velhos cortinados tapavam precariamente as grandes janelas que, através dos vidros partidos, mostravam uma paisagem deslumbrante da que séculos atrás, fora chamada Cidade Luz, Lisboa.<br />
Voltando ao corredor longo dirigiu-se às velhas e enferrujadas escadas de caracol que em tempos brilhavam de tão limpas e tratadas que estavam.<br />
Foi dar à sala interior que ainda tinha o grande e velho móvel de cedro que outrora servira de biblioteca.<br />
Observou o grande salão que dava para o jardim. As suas paredes estavam cobertas de heras e outras trepadeiras. A natureza já começara a recuperar o seu espaço perdido.<br />
Observou o exterior. O pequeno, mas outrora belo e acolhedor jardim, hoje não passava de uma lixeira cheia de todos os géneros de detritos possíveis e imaginários. Onde não os havia, a vegetação selvagem tinha tomado conta de tudo.<br />
Voltou ao interior da casa e dirigiu-se à entrada que levava à sala do outro lado do velho móvel que outrora servira de atelier de pintura.<br />
Ali a destruição era maior. Um cano da pequena casa de banho que a sala acolhia deveria ter rebentado e deu cabo do chão de madeira. As paredes estavam podres e havia bolor verde e viscoso por todo lado.<br />
Um cão ladrou lá fora.<br />
De lágrimas nos olhos acordou para a realidade, subiu as escadas e dirigiu-se para a porta de saída daquela casa que outrora fora o local dos seus sonhos.<br />
A família esperava-o no carro após o regresso do Reveillon.<br />
Não tinham tido coragem de entrar.<br />
Quando venderam a casa, anos atrás, nunca pensaram que os novos donos, após terem recebido uma herança, a tivessem abandonado daquela maneira, reduzindo-a a um monte de escombros, destruindo sonhos, recordações de vidas e paixões que nela se passaram.<br />
Continuaram viagem para casa.<br />
Era hora de ohar em frente. <br />
Um novo ano começara. <br />
O passado ficara lá atrás.Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com30tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-1176151331476808772010-02-15T22:04:00.000+00:002010-02-15T22:04:26.049+00:00O Desejado- Meu filho, vinde a mim. Teu avô, carne da tua carne, sangue do teu sangue te chama. Filho do Sol e da Lua, chegou a hora de conheceres o significado das letras, a importância dos números.<br />
<br />
“Com pequenos passos se aproximou do avô. Alto, austero, pele mais clara que os glaciares, olhos azuis metálicos, decisões e olhar firme, esticou a mão de dedos compridos e finos. Unhas bem tratadas, sorriu com seus lábios finos e rosáceos pegando na mão pequena e receosa do neto.<br />
Aproximou-o e tirou de um saco de pele usado e gasto um livro enorme e grosso. Tinha uma capa, também de pele, e neles estavam gravados a ouro estranhas e misteriosas marcas quais runas celtas.”<br />
<br />
- Aqui, frente a ti, tens o pilar da sabedoria: Aqui se apresenta perante ti, meu neto, carne da minha carne, sangue do meu sangue, o princípio de todo o conhecimento. <br />
O sangue dos que nos antecederam. <br />
O sangue daqueles que deram a vida para cresceres alimentando o teu cérebro com os conhecimentos ocultos que passaram de geração para geração, a princípio de boca a ouvido, depois séculos mais tarde, para não se perderem aqui foram escritas. <br />
Sábias palavras que o vento não apagou, que o tempo não mudou.<br />
A partir de hoje, tua vida mudará. <br />
Terás de aprender o significado dos símbolos, a razão dos números, a força das palavras, para mais tarde, quando completares dezoito anos, receberes o legado que te deixarei.<br />
<br />
“Tambores rufavam ecoando nos ouvidos da criança. Faziam tremer e vibrar as velhas paredes da casa de pedra onde se encontravam. Lá fora apenas existia o bosque de frondosos carvalhos que isolavam a casa de seu avô do resto da civilização, mas o som de algo invisível continuava a ecoar em seus ouvidos enquanto ouvia solenemente, mesmo sendo muito jovem, a altivez e sapiência de seu avô, guardião de um conhecimento há muito desconhecido para os vulgares mortais, afastados da terra e dos seus segredos milenares. <br />
Enquanto o ouvia, silenciosas criaturas parecidas com pequenas labaredas voavam ao seu redor deixando um rasto cor de fogo e aroma de rosas no ar. Seu avô continuava falando, mas tomando um aspecto intrigado para com ele."<br />
<br />
- Há muito, muito tempo, ainda se adorava os Deuses Antigos, houve um grupo de Homens, conhecidos pelos antigos povos da Península como os Luz-Citâneos. Esses homens pertencentes a uma brava e antiga nação da qual somos os seus descendentes, adoravam a Terra e suas divindades. <br />
Conheciam a maneira de ver, falar e visitar seres que ninguém hoje em dia imagina que existem.<br />
Decerto que já ouviste falar de fadas, elfos, centauros e outros. Criaturas mitológicas ligadas ao imaginário dos contos de fadas narrados às crianças como tu, nos dias de hoje. <br />
Esses bravos homens, conhecedores da Sabedoria Antiga herdada de seus antepassados vindos das terras submersas pelo mar, mantiveram viva a tradição de se manterem em contacto e equilíbrio com essas forças da Terra.<br />
De entre esses homens, havia um, bastante jovem, que sobressaia em relação aos restantes. Seu nome era Virgantu. <br />
Nasceu com o Dom. Apenas poucos nasciam com o Dom. <br />
Um dos poderes que o Dom lhe dava era a possibilidade de poder passar pelos mundos com bastante facilidade. <br />
Enquanto os outros homens da sua espécie necessitavam de contactar com os Elementares em épocas precisas, Virgantu, apenas precisava de sorrir e abrir a sua mente àquilo que acreditava. <br />
Abençoado desde que nasceu pelas Quatro Fadas Elementares, Rainhas da Natureza e dos Sete Mundos, cedo se apercebeu e cedo se aperceberam todos os que o rodeavam que ele era o Homem destinado a mudar o mundo físico. <br />
Se os outros homens o deixassem, claro. <br />
Mas como a inveja é dos pecados mais antigos do mundo, Virgantu, não chegou a envelhecer, acabando por desaparecer misteriosamente, mas deixando aos Luz-Citâneos as velhas fórmulas para a harmonia dos Sete Mundos. <br />
Na verdade está escrito que Virgantu se retirou para a Terra das Quatro Fadas quando viu que, além dos Luz-Citâneos, os pobres mortais não eram dignos de conhecerem a felicidade e harmonia da Natureza, porque para além de não a compreenderem cedo a destruiriam. <br />
Na verdade desistiu do seu desígnio, mas as Fadas Rainha perdoaram-no e acolheram-no no seu seio.<br />
Contam os Antigos, que foi proclamado príncipe dos Sete Mundos tendo casado com a filha mais bela das Fadas Rainha, Iriana. <br />
Nesse dia as portas entre mundos se abriram de par em par tendo existido amor e felicidade em todos os cantos da Natureza. <br />
Belas canções bailavam pelos ares e os humanos viram coisas lindas e inimagináveis como nunca tinham sido vistas. <br />
Belas demais para se descrever em letras ou palavras, mas, como sempre os pobres mortais fecharam-se em suas casas com receio do desconhecido.<br />
Foi a última vez que os Portais da Natureza se revelaram aos olhos e mente dos pobres mortais.<br />
A partir daí, apenas os Luz-Citâneos e seus descendentes ficaram portadores do conhecimento da existência desses mundos e desses seres frágeis e belos mas ao mesmo tempo fortes e ferozes para quem lhes quer mal. <br />
Ficaram a partir desse dia a ser portadores do Livro das memórias aguardando a chegada Desejado.<br />
O portador do Dom.<br />
Até aos dias de hoje temos aguardado a sua vinda.<br />
Mas hoje uma nova página se abrirá no Livro das Memórias e essa página terá um nome. O teu, meu neto. <br />
Teu pai cedo deixou de acreditar na herança que lhe estava destinada e só vejo em ti, desde o dia que nasceste, o futuro guardião das Palavras Sagradas. <br />
Aceitas, com força e nobreza esse fardo pesado que pretendo te colocar aos ombros?<br />
<br />
- Sim, avô. Por me teres dado a conhecer o segredo e a força das palavras mágicas e dos números do conhecimento fizeste com que crescesse mais do que a minha tenra idade. Não sei se estou preparado mas tudo farei para ser um digno representante dos nobres Luz-Citâneos e tudo farei para manter viva a chama sagrada do conhecimento.<br />
<br />
“O avô sorriu e abraçou-o ternamente.”<br />
<br />
- Então chegou a hora. Teus pais não estavam de acordo, mas não tem coragem de negar o inegável quando sabem que é e sempre foi o teu destino desde que nasceste. Na verdade não serás apenas o futuro guardião das Palavras Sagradas, porque tu tens o Dom.<br />
<br />
- Como sabeis que tenho o Dom, meu avô, se eu próprio não o sei?<br />
<br />
- Ouves algo de estranho não ouves, meu rapaz? Música bela e melodiosa no ar? Vês algo não vês, meu rapaz? Bem te vejo a olhar em teu e meu redor como se algo nos sobrevoasse e rodeasse. Tenho estado a observar-te durante estes dias e não enganas.<br />
<br />
- Mas avô. O que ouço são apenas tambores rufando na floresta e vejo estas pequenas luzes a subir e descer que nem loucas à nossa volta.<br />
<br />
- Pois, neto desejado. Nada disso ouço. Nada disso vejo. Apenas o Escolhido tem o Dom de ver e ouvir os Elementares quando lhe apetece. Ou até quando não lhe apetece, porque a sua mente está aberta aos Sete Mundos. <br />
Estamos esperando por ti há séculos. Contigo os Sete Mundos voltarão a ter esperança renovada de que o equilíbrio da Natureza voltará.<br />
Teremos de te preparar para que estejas pronto para o teu Destino. <br />
Fazer ver ao comum dos mortais que a Natureza e este planeta pertence aos Sete Mundos e não pode ser destruído. Deverá ser amado e protegido para que todos os seres vivam em paz e harmonia. Será uma tarefa hercúlea para a qual deverás ser bem treinado. <br />
Se o nosso mundo continuar no caminho até agora tomado, os outros serão afectados e nada restará a não ser pó e cinzas.<br />
Vinde. Caminhai a meu lado. O destino te aguarda lá fora.<br />
<br />
“A porta se abriu e sairam juntos para a floresta.<br />
Milhares de seres elementares esperavam a criança para a receber em seus braços. <br />
Ali estava o Elo perdido, a criança esperada, desejada, para a salvação dos povos.<br />
Seu avô reparava nos olhos brilhantes do neto que tomavam diversas cores e em sua face maravilhada. <br />
Sorriu e sentiu-se animado por uma força enorme e maravilhosa. <br />
Sentiu-se feliz como nunca o tinha sentido, mesmo sabendo que à sua frente apenas estavam os velhos, fortes e frondosos carvalhos que sempre conhecera em toda a sua vida. Por segundos sentiu uma ponta de inveja do seu neto por apenas ele poder ver algo de tão belo que nem ele, portador até àquele dia do Conhecimento Sagrado, pôde ver num segundo sequer da sua vida. <br />
Mas logo se arrependeu do que sentira. <br />
Uma lágrima se assomou nos seus olhos azuis, agora afectuosos. <br />
Ainda não se tinha separado e já sentia saudades daquela criatura de tenra idade. <br />
Largou sua mão e viu-o a ser levado pelo ar como um folha levada por uma brisa da manhã. <br />
Seu neto ria e estava feliz como nunca, brincando com algo invisível. <br />
Por breves instantes pareceu-lhe também ver pequenas criaturas voando, deixando no ar rastos cor de rosa primaveril. <br />
Mas uma coisa tinha a certeza. <br />
Aquele aroma no ar, a flores silvestres, não provinha dos carvalhos ao seu redor. <br />
O neto olhou para o seu avô, sorriu, acenou com sua pequena mão, desejou-lhe um até breve com palavras silenciosas dirigidas directamente ao seu cérebro e desapareceu na Natureza.<br />
Prostrado, chorando de felicidade, seu avô rezou um salmo à Natureza e soube que a partir daquele momento havia uma esperança de sobrevivência. <br />
Tinha começado uma nova era. <br />
A Era do Conhecimento. <br />
Os Sete Mundos voltariam a unir-se. <br />
A Harmonia estaria de volta em breve. <br />
O Desejado tinha voltado.Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-33507281290762627022010-02-15T22:03:00.000+00:002010-02-15T22:03:38.770+00:00DespedidaQuero a minha mãe. <br />
Quero a minha mãe.<br />
<br />
Chorava a criança convulsivamente enquanto batia com as mãos, os braços e as pernas no chão feito de mosaico frio.<br />
Os avós não sabiam o que fazer. <br />
O pai estava fora trabalhando. <br />
A mãe estava hospitalizada fazia três meses e restava-lhe pouco tempo de vida. Uma coisa má a levaria deste mundo.<br />
O garoto pouca contacto tinha com a mãe.<br />
Ela tinha saído de casa ainda ele não tinha um ano de idade e seus avós é que eram sua mãe, seu pai, sua família. <br />
O pai desiludido com o desgosto de amor dedicava-se doentiamente ao trabalho e quando não estava no emprego passava as horas nos cafés em jogos de snoocker.<br />
- A mãe está doente no Hospital. O pai no fim de semana leva-te para a ver.<br />
Mas a criança continuava. Olhos raiados de sangue, pele roxa de tanto gritar e chorar, parecia que lhe poderia dar algo a qualquer momento.<br />
Passou assim uma hora completa. <br />
Exausto e cansado acabou por adormecer ao colo de sua avó.<br />
O telefone tocou.<br />
Com passos calmos, conforme a sua personalidade, o avô dirigiu-se ao telefone. Atendeu.<br />
Ouviu.<br />
Agradeceu e desligou. <br />
De semblante carregado fez sinal à avó que deitou a criança no sofá tapando-o com uma manta grossa e quentinha. <br />
O garoto, meio acordado, observava-os.<br />
Parecia que fazia uma análise fria da situação, observando-os com os seus grandes olhos castanhos.<br />
A avó começou a chorar dizendo baixinho: <br />
- Pobre menino. Pobre menino.<br />
O garoto levantou a cabeça e disse: <br />
- Avó. <br />
Quero a minha mãe.<br />
<br />
– silêncio – <br />
<br />
- Avó. A mãe foi para o céu, não foi?<br />
A avó ainda com olhos lacrimejantes, tentando disfarçar, perguntou: <br />
- Porque dizes isso, querido?<br />
- Eu sei. <br />
Por isso quero a minha mãe.<br />
Levantou-se um silêncio na casa apenas quebrado por um pequeno choro convulsivo da criança enquanto, entre dentes, dizia que queria a mãe.<br />
Mãe essa que na verdade nunca esteve com ele como uma mãe está com a sua cria.<br />
As horas passaram.<br />
Finalmente chegou o seu progenitor. <br />
Deram a notícia.<br />
O olhar vidrado pelas lágrimas e as mãos crispadas diziam tudo.<br />
Olhou para a criança, aproximou-se dela e disse baixinho.<br />
- Dela, só te tenho a ti.<br />
Afagando-lhe o rosto. Um triste sorriso na face. Uma lágrima correndo entre as covas de sua cara escondendo-se por detrás do colarinho de sua camisa.<br />
- És tão parecido com ela, Meu Deus.<br />
O menino, enxugando as lágrimas ao pai com sua pequena mão, respondeu-lhe.<br />
- Não te preocupes, papá. A mamã está nos observando e não deixará que nada de mal aconteça.<br />
Uma brisa passou, mesmo com as janelas encerradas, e os dois olharam para o vazio, abraçados, sentindo-se sós, mas ao mesmo tempo cheios de algo, de alguém. Cheios de Algo que não compreendiam.<br />
Os avós, esses, deixaram-nos sós. <br />
A despedirem-se.Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-19069792062010879162010-02-10T23:04:00.000+00:002010-02-10T23:04:51.048+00:00Novas gentes, novos lugares- Querido. Temos de conhecer novos locais, novas gentes, novos mundos! As minhas colegas, todos os anos, viajam para sítios exóticos com os maridos e nós nunca vamos a lado nenhum a não ser ao shopping com a tua mãe!<br />
Sempre a mesma conversa. Anos e anos seguidos. Qual é o problema de nunca irmos a lado nenhum? Não fica contente com o aconchego do lar? Não lhe chega? Mas agora vai ficar surpresa. Vou satisfazer a sua ânsia de conhecer uma realidade diferente!<br />
- Querida. Prepara-te. Este fim de semana vamos passear. Finalmente vais conhecer novas gentes, novos hábitos, novos lugares.<br />
- Que bom, Amor! Fico tão feliz por afinal me ouvires! Vou já contar à minha mãe.<br />
Partimos logo de manhã. Dei-lhe a conhecer novos locais, gentes diferentes, sabores exóticos, cheiros estranhos. Ouvimos línguas que não entendíamos, gestos que não percebíamos, culturas tão diferentes da nossa! Um passeio cheio de retalhos do imaginário, cultural, exótico, desconhecido, envolvente que se entranhava em mim a cada passo que dava.<br />
Voltámos para casa.<br />
Ela fez as malas e partiu!<br />
Nunca mais falou comigo!<br />
Os papéis do divórcio vieram pelo correio para eu, simplesmente, assinar!<br />
Sabia que dando-lhe a conhecer novos mundos corria este risco.<br />
Nunca, mas nunca mais levarei uma mulher minha a passear aos sábados de manhã a Lisboa. Muito menos à Mouraria!Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-90311075677019775722010-02-09T23:05:00.000+00:002010-02-09T23:05:49.720+00:00Vá-se lá compreender as mulheres!Sentia-se um homem realizado. Já na casa dos setenta, tinha casado ainda muito jovem. <br />
Tinham tido 3 lindos filhos, dois rapazes e uma menina, que sempre foram crianças correctas, educadas e depois, adultos equilibrados, felizes e realizados. <br />
Já lhe tinham dado cinco netos. Qual o mais belo? Todos gostavam muito do seu avô. <br />
Mas o que o fazia sentir mais realizado era a sua mulher. <br />
Companheira inseparável naqueles anos todos. Sempre a seu lado, quando necessitava ou não. <br />
Ele não era de muitas palavras, njunca lhe tinha dito palavras de amor. Mas ela também não era mulher disso!<br />
Nunca lhe faltou com nada. Cama, mesa, roupa lavada, era um mimo de mulher. <br />
Tinha as virtudes que mais gostava numa fémea. <br />
Por isso quando lhe perguntaram, numa entrevista de rua, se ainda amava a sua mulher ao fim daqueles anos todos de casado, respondeu sem vacilar que sim. Resolveu dizer o que lhe ia na alma, finalmente. <br />
Disse que a amava muito! <br />
E porquê? Porque ela era muito trabalhadora, limpa e asseada! Por isso nunca pensara sequer ter uma mulher a dias, uma empregada doméstica. Para quê se a mulher já o era. Se já tinha aquelas virtudes que ele tanto apreciava acima de tudo? Que era por isso que a amava. Por trabalhar em casa desde o nascer do sol até à hora em que ele se deitava pronto para ressonar o ressono dos justos. Por limpar a casa toda, não deixando sequer que um pouco de pó andasse pelo ar. Que cheirava sempre tão bem, como a casa onde viviam!<br />
Não compreendeu a atitude dela! <br />
Quando o disse para as câmaras, para o país todo ouvir, era como uma declaração de amor! <br />
Não estava à espera que ela lhe desse uma "murraça" em directo, o tivesse chamado de porco e ingrato e agora, uma semana depois, estar só, no seu cadeirão favorito na sala, à espera de se encontrar com ela e o advogado para acertarem o divórcio! <br />
Aos Setenta anos! <br />
Vá-se lá compreender as mulheres! <br />
Se calhar tem outro!!!Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com24tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-79629196735456327702010-02-09T22:35:00.000+00:002010-02-09T22:35:13.979+00:00Sakamuri era um Homem feliz...Sakamuri era um homem feliz. <br />
Pelo menos assim o gostava de pensar. <br />
A sua grande paixão sempre foi a Belle Cuisine. <br />
Não como consumidor, mas sim como criador.<br />
Era um renomado Chefe de Cozinha. A sua cadeia de restaurantes era famosa por todo o Japão. <br />
Mas nunca tinha conhecido outro tipo de felicidade. A felicidade e o prazer de amar alguém. Não perco tempo com futilidade, costumava dizer no seu circulo reduzido de amigos, conhecidos ou interesseiros como gostava de os classificar.<br />
Era um homem feliz. Assim o gostava de pensar. Gostava de começar os seus dias sentado sempre na mesma rocha, descalço, a olhar o mar mudando de cor. <br />
Mas naquele dia algo iria mudar para sempre a sua vida. <br />
Tinha-o começado com o seu ritual de há anos. Saiu de casa, não sem antes admirar a sala que possuía repleta de prémios pelas suas criações culinárias. Dirigiu-se à praia próxima de sua casa, descalçou-se e foi andando pela areia fria até à rocha mais próxima do azul esverdeado. <br />
E foi aí que a viu pela primeira vez. Cabelos compridos, negros do azul mais profundo que o mar possui, pele branca como coral e uma face mais bela do que qualquer das suas mais mirabolantes criações culinárias. <br />
Chamou-o e ele foi. Entrou na água dando-lhe a mão e foram para longe levado sempre por ela, cada vez mais para baixo. Foi aí que se percebeu que aquela visão que o deixou de imediato agarrado pela paixão louca e insana, era, afinal, parte mulher, parte criatura do mar.<br />
Assustado, tentou-se libertar, mas cada vez mais se sentia seu prisioneiro.<br />
Preso, sem ar, quase a sucumbir, foi beijado com loucura por ela.<br />
Deixou de ver! Sentiu o sabor de todas as iguarias do mar naquele beijo! Sentiu-se enleado numa rede de espuma que o levava não ao céu, mas, poder-se-ia dizer, ao paraíso.<br />
E louco de paixão, seguiu-a...<br />
Naquele momento iria com ela até ao fim do mundo.<br />
Apercebeu-se que após aquele beijo conseguia respirar debaixo de água! Poderia ficar com ela para sempre!<br />
Poder-se-iam amar sem que nada mais importasse naquela vida. <br />
Mas cedo veio a saber que a saudade mata, rói por dentro. E começou, todos os dias, a recordar-se da sua anterior vida, como era calma e bela.<br />
Decidiram. Iriam viver na terra. Nunca se separariam.<br />
Ela não conseguia idealizar a vida sem ele. A paixão, o amor, era louco entre ambos.<br />
Regressaram numa noite. Discretamente, colocou-a ao seu colo e levou-a para casa.<br />
Acomodou-a e deu-lhe um espaço para ela. Só para ela.<br />
Sakamuri era um homem feliz. <br />
Hoje, mais que ontem, tinha a certeza que era um homem feliz. <br />
Descobriu os prazeres do amor, da paixão, viveu tempos loucos de prazer que nenhum homem se poderia orgulhar de ter vivido e, depois de tudo isso, voltou à sua vida. À vida que ele tanto amava. <br />
E após isso... ficou famoso. Conhecido mundialmente. Pelos seus pratos de sushi, cujo segredo apenas ele conhecia. <br />
Ainda tinha na sua casa, a barbatana da cauda, para se recordar dela.<br />
Ficaria para sempre grato à sua paixão de cabelo azul profundo.<br />
Nunca tinha provado um sushi tão bom como aquele!<br />
Sakamuri era um Homem feliz...Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-70871757871770434982010-02-09T22:26:00.002+00:002010-02-09T22:26:47.446+00:00No Mundo dos SósNo mundo dos humanos, seres tão gentis, como alegres, tristes, afáveis, antipáticos, virtuosos, brutos, gentis, guerreiros, selvagens, invejosos, ambiciosos, colonizadores, procriadores, enfim, numa palavra, civilizados, havia uma subespécie que ninguém dava conta!<br />
Era o Povo dos Sós. <br />
O incrível mundo dos Sós.<br />
Os Sós andavam no meio de todos e ninguém os via!<br />
Os Sós cruzavam-se com os Civilizados, a todas as horas e ninguém reparava neles!<br />
Os Sós não tinham ninguém.<br />
Os Sós não viviam com ninguém!<br />
Não tinham quem lhes sorrisse à noite, quando adormeciam.<br />
Não tinham quem lhes dirigisse a palavra!<br />
Poder-se-ia dizer que eram invisíveis. Os Sós.<br />
Até que um dia, um humano, como qualquer um Civilizado, reparou num Sós.<br />
Lá estava ele, numa esquina, na parte mais escura da rua, em cima de um cartão, sujo e molhado.<br />
O humano Civilizado aproximou-se e viu que o Sós tinha vida!<br />
Respirava como ele, movimentava as mãos como ele, olhava como ele!<br />
Se bem que o olhar era mais triste.<br />
Por incrível que pareça, até lhe sorriu!<br />
O Sós era um ser vivo!!!<br />
Entrou na pastelaria mais próxima e comprou um pão com manteiga e um pacote de leite.<br />
Voltou à rua e encontrou-o no mesmo lugar.<br />
Mas agora ainda lhe parecia mais idêntico a ele e aos outros Civilizados.<br />
Talvez por ter esticado a sua mão, suja e gretada pelo frio!<br />
Deu-lhe o alimento, tendo o Sós comido avidamente!<br />
Saiu dali e voltou ao seu local de trabalho!<br />
Como era repórter e tinha um trabalho a apresentar para os milhões de ouvintes civilizados, lembrou-se de falar naquele ser que tanto o intrigara. O Sós!<br />
Contou como ele lhe ficou grato com um simples pão, como lhe prometera voltar para lhe dar um pouco de calor oferecendo um cobertor. Como lhe dera algum dinheiro para ele se poder alimentar melhor, vestir algo mais quente, tomar um banho!<br />
E todos os Civilizados acharam incrível! Como seria possível haver entre eles o Mundo dos Sós??!!??<br />
Já tinham ouvido falar neles, é verdade. Mas ali, nas suas cidades?<br />
Como era possível!<br />
Nunca tinha acontecido tal!<br />
E saíram às ruas. Primeiro eram dezenas. Passaram rapidamente a centenas. Até serem milhares. Milhões, mesmo!<br />
Todos a querem descobrir o Mundo dos Sós!<br />
Todos a quererem auxiliar o Mundo dos Sós.<br />
No fim, não custara nada! Até soubera bem!<br />
Acabaram por descobrir que sempre houve Sós entre eles. Que trabalhavam com eles, que os cumprimentavam na rua, que estudavam com eles, que havia Jovens Sós, Idosos Sós, Sem abrigo Sós, Casais Sós, Homens vulgares Sós, Mulheres comuns Sós.<br />
Era um Mundo paralelo o qual nunca se tinham apercebido.<br />
Mas em pouco tempo, com o pouco que deram, os Sós integraram-se e passaram a pertencer às suas ruas, aos seus bairros, às suas cidades, aos seus amigos, às suas famílias!!<br />
E deixaram de ser os Sós. Para haver uma nova Raça. Uma nova espécie.<br />
Um novo mundo.<br />
O mundo dos Homens... simplesmente.Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com54tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-28483918332084970132010-02-09T22:26:00.001+00:002010-02-09T22:26:35.440+00:00RotinasLouca de cansaço ia, ainda moça, para casa<br />
O dia não tinha corrido de feição<br />
o trabalho acumulava-se e o tempo era escasso.<br />
Aqueles que ela julgara amigos, irmãos,<br />
afinal não eram o que são<br />
não eram o que julgava, <br />
o que pensara, o que imaginara<br />
Criticas, conversas, bichanices, tramóias<br />
tudo a cansava nesta vida cheia de regras, leis e hábitos.<br />
Abriu a porta, como abrira milhares de vezes<br />
Entrara em casa como o fizera vezes de milhar<br />
Pousou seus pertences e começou...<br />
A máquina de lavar colocou a trabalhar, <br />
enquanto não esquecia de preparar a roupa de seu filho<br />
Pelo canto do olho observou as decorações de Natal<br />
Terminou o que fazia e foi limpá-las não esquecendo de as arrumar<br />
Estendeu a roupa que deixara lavada pela manhã<br />
O filho entretanto requeria a sua atenção<br />
Preparou o jantar familiar<br />
e alimentou a criança<br />
entretanto o marido mastigando pedaços de alimento<br />
observava com olhar vazio <br />
as imagens que corriam na tv<br />
Terminaram, levantou a mesa e continuou<br />
Levou o menino ao quarto<br />
Com um beijo despiu aquele pequeno corpo e vestiu-o para dormir<br />
A máquina da loiça após estar bem cheia entrou no ritmo<br />
no som musical dos aparelhos domésticos funcionando<br />
Abriu a porta de casa<br />
como já o fizera milhares de vezes<br />
Na mão levava os restos do dia anterior<br />
O lixo que sobrara da sua vida<br />
Despejou-o na conduta do prédio<br />
como se deitasse fora o cansaço na sua vida<br />
Voltou e tornou a entrar em casa<br />
Como entrara centos de milhar de vezes<br />
Preparou a árvore de natal para o ano anterior, guardando-a<br />
Como seria bom se o Natal fosse todos os dias de sua vida<br />
Na despensa colocou os enfeites, brilhantes, de Natal<br />
e foi-se deitar, cansada preparada para outro dia de sua vida<br />
Ainda teve tempo, <br />
enquanto ouvia no quarto ao lado o barulho do sono dos justos de seu filho, <br />
de ouvir o seu marido dizer:<br />
Hoje tive um dia muito cansativo, nem imaginas!<br />
Olhou fixamente para ele.<br />
Sem dizer uma palavra,<br />
virou-se para o outro lado e... adormeceu!Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com46tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-22139402971451180382010-02-09T22:26:00.000+00:002010-02-09T22:26:14.492+00:00"O sentido da Vida" ou "A mulher que queria ser monstro... e não sabia!"(Nota: Este conto é ficção. Toda e qualquer semelhança com factos e/ou pessoas do mundo real é pura coincidência)<br />
<br />
Vivia na urbe. <br />
Trabalhava no campo. Num escritório, mas no campo.<br />
Maria Borboto era uma mulher como muitas outras de meia idade, tentando fazer a sua vida independentemente de qualquer homem ou filiação!<br />
Adorava uma boa discussão. <br />
Dia que não discutisse com uma amiga, pseudo-amiga, colega, pseudo-colega, ou até mesmo com o senhor da pastelaria que lhe servia o pequeno almoço, não era dia!<br />
Tudo estava mal apenas pelo prazer de dizer que estava mal.<br />
Sentia-se feliz assim. Sentia-se realizada assim. Sentia um fascínio pelo escárnio e mal dizer.<br />
Devota da coscuvilhice, amante do morder na vida dos outros, lá seguia o rumo de sua vida de apenas um sentido. O de arreliar os outros. Apenas isso fazia tinha sentido. Para ela era o Sentido da Vida!<br />
Os colegas não podiam almoçar na copa, que estava preparada para tal, sem que ela criticasse que não se devia comer de pé, que ficava tudo a cheirar mal, que deixavam a louça suja, que deixavam a louça limpa mas a secar, que... que... que...<br />
Nenhum colega podia tirar uma cópia com mais de dez páginas porque ela queria a fotocopiadora sempre disponível quando necessitava de a usar.<br />
Não queria que tirassem impressões muito longas porque queria que a impressora estivesse disponível quando necessitasse.<br />
Não gostava de isto, não gostava daquilo, não gostava deste, não gostava do outro...<br />
Até que um ente maligno que tudo observava resolveu cometer uma graça, daquelas graças que só os entes malignos acham graça, intervindo.<br />
A senhora, muito querida e solicita, ironicamente falando, estava a desancar um colega apenas por ter deixado cair uma gota de café ao chão, quando lhe chegou às suas reais narinas um cheiro degradante e nauseabundo!<br />
Gritou logo, para quem a pudesse ouvir, que era inadmissível aquele cheiro, as pessoas deviam tomar cuidado, não deviam deitar dejectos poluentes no caixote do lixo, que isto, que aquilo... enquanto ia descascando uma pequena meloa! <br />
Ao levá-la à boca sentiu pela primeira vez que o cheiro nauseabundo não vinha do caixote, mas sim do fruto que se preparava para comer.<br />
Repugnada, deitou-a imediatamente no lixo. O mesmo gesto que há segundos atrás criticara aos colegas, por deitarem coisas putrefactas e nauseabundas num caixote que não devia levar tal!<br />
Foi buscar as outras peças de fruta que tinha e assustou-se com o cheiro horrível que exalavam!<br />
Tentou falar com um colega, mas o pobre homem ia desmaiando com o hálito putrefacto que a senhora espalhava.<br />
Assustada correu para os sanitários e olhou-se ao espelho. Colocou a língua de fora, largou o bafo e não notou grande diferença mas estranhamente o espelho quebrou-se em mil bocados! <br />
Ao olhar para o chão apercebeu-se que uma espécie de liquido viscoso escorria de suas pernas deixando um rasto pelo caminho que fizera!<br />
Parecia uma maldição! <br />
Ela que era tão zelosa da critica com os outros, estava a ficar um lixo humano!<br />
Em pânico saiu a correr para a rua mas quando tentou gritar, apenas um som horrível saiu da sua garganta!<br />
<br />
Tudo o que criticava nos outros era ela em bruto!<br />
<br />
Os colegas nunca mais a viram!<br />
O ambiente melhorou imenso. As discussões acabaram!<br />
Saudades não houve. Apenas temor pelo possível regresso!<br />
A explicação que deram foi de que a senhora tinha apanhado um vírus qualquer, causado pela falta de limpeza do ar condicionado, mas já estava tudo sob controle.<br />
<br />
Afinal teve sentido. <br />
A vida que levara até aí. <br />
Os colegas agradeceram...<br />
Com o seu desaparecimento, pelo menos trabalharam mais felizes e conseguiram ver o lado mau do trabalho em conjunto.<br />
<br />
Anos mais tarde, supostamente, alguém a viu a deambular pelas ruas de cidades. E em cada urbe que passava os habitantes tinham de ser evacuados e nos campos que percorria a vegetação secava e os animais morriam sem saber a razão!<br />
<br />
(Roderick tales - Contos de Roderick)Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com50tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-89994387537588017352010-02-09T22:25:00.002+00:002010-02-09T22:25:59.873+00:00"A camisa de Raúl Bonifácio" ou "A inveja é coisa feia"Estava Raúl Bonifácio a trabalhar, quando uma colega se apercebeu de algo que não estava bem!<br />
Raúl tinha uma linha solta nas costas de sua camisa! Situação inadmissível!!!<br />
Avisou-o discretamente ao que Raúl agradeceu.<br />
Raúl tentou arrancá-la torcendo o tronco todo para puxar a linha com a mão, mas a colega disse que não o fizesse porque corria o risco de ficar com um buraco na camisa.<br />
Raúl não lhe deu importância e puxou com toda a força o fio solto. <br />
O resultado foi um buraco nas costas da camisa.<br />
Ora ali estava um grande problema! Como é que ele iria continuar o seu trabalho com um buraco na camisa? Seria inadmissível para a sociedade em que estava inserido!!<br />
O chefe chamou-o ao gabinete e disse:<br />
- Raúl, sei que está a trabalhar com um buraco nas costas da sua camisa. E não tente negar porque já soube de fonte fidedigna. Nem tente disfarçar vestindo o casaco. O melhor que tem a fazer é ir para casa resolver a situação. E se amanhã ainda tiver o buraco, fique em casa. As camisas estão primeiro.<br />
- Mas chefe, eu sinto-me bem!! O buraco nem se vê!!<br />
- Raúl, Raúl! Já lhe disse e não repito. Colaborador meu, não trabalha com buracos nas costas da camisa. O arranjo da roupa, seja ela camisa, calça ou até mesmo roupa interior está primeiro!<br />
E assim lá foi contrariado, para casa.<br />
No dia seguinte o chefe ligou-lhe mas Raúl ainda não tinha resolvido o problema do buraco.<br />
O chefe como bom condutor de homens disse para ele ficar em casa até ao fim de semana e que resolvesse isso da melhor maneira.<br />
Chegou a sexta feira e o chefe tornou a contactá-lo. Raúl já desesperançado com a situação contou que já tinha ido com a mulher a vários locais do país, inclusive à região do Algarve, tendo mesmo dado um pulo a Espanha, mas não tinha conseguido encontrar a cor correcta para remendar a camisa!<br />
O chefe, compreensivo, disse para não se preocupar e até lhe aconselhou o nome de duas ou três costureiras muito boas que poderiam ter algum bocado de linha daquela cor! Bastante caras mas valiam a pena.<br />
Três semanas depois, Raúl voltou ao serviço. Feliz, com a camisa remendada e bastante bronzeado. “Foi por causa da busca árdua que fiz!” dizia ele para quem o quisesse ouvir!<br />
Até que se apercebeu da ausência de Ermengardina.<br />
“Sabe Raul, após você se ausentar, a Ermengardina apercebeu-se de que tinha uma linha solta nas meias.” Disse o chefe “Claro que quando me contaram isso, ordenei logo que fosse para casa”.<br />
“Invejosa” pensou Raúl “Não pode ver nada!!!”Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com39tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-57364039422606359672010-02-09T22:25:00.001+00:002010-02-09T22:25:47.069+00:00O centro das atençõesAs luzes focavam-se nela. Era o centro das atenções. Os gritos de alegria das crianças desapareceu por completo quando a colocaram no meio do palco.<br />
Não sabia se o cheiro que sentia era o do seu próprio medo, se dos animais que estavam enjaulados lá fora.<br />
As luzes incidiam sobre a sua figura deixando visível todas as partes do seu corpo desnudado. O silencio da plateia após os “ohhhsss” de espanto deixavam-na sempre envergonhada, intimidada, sem saber o que fazer.<br />
Já estava naquela vida há bastantes meses, mas ainda não se tinha habituado.<br />
Há pouco menos de um ano a sua vida era um mar de rosas. Tinha tirado Medicina e iniciava uma carreira que se via, em tudo, promissora. Tinha sido sempre a melhor de todos os alunos da Faculdade e auguravam-lhe um futuro bastante brilhante. Começou a trabalhar para outrém numa clinica privada e era apenas uma questão de tempo para poder conduzir a sua própria clinica.<br />
Até ao dia que aconteceu.<br />
Chegou a casa, como num dia normal, tarde.<br />
Chegara cansada e com vontade de ir directamente dormir.<br />
Vivia só. Não se casara ainda que namorasse.<br />
No silencio do seu quarto, tentava dormir, quando sentiu uma vontade tremenda de se coçar no corpo todo. Começou lentamente, quase acariciando a pele. Mas a comichão aumentava e a vontade de acabar com ela subia!<br />
Ao fim de dez minutos começou a entrar em pânico, porque estava com a pele toda arranhada, quase em carne viva.<br />
Foi à casa de banho e olhou-se no espelho.<br />
Entrou literalmente em pânico.<br />
No lugar da sua cara, bela e sem mácula, via no reflexo, uma cara com bolhas enormes em sangue de tanto se coçar. Despiu-se em pânico e apercebeu-se que tinha o corpo todo assim.<br />
Quase a ser tomada por um ataque de pânico, conseguiu vestir um robe e correu para a viatura que se encontrava na garagem de sua casa.<br />
Ao chegar ao hospital, levaram-na de imediato às urgências.<br />
Após diversos exames chegaram à brilhante conclusão que deveria ser alérgica a algo que lhe fez aquela reacção.<br />
Receitaram-lhe medicação para acalmar a pele e mandaram-na de volta para casa.<br />
Duas horas depois a reacção foi mais violenta. Quase rasgava as carnes de tanta dor e comichão que tinha!<br />
Voltou ao hospital e disseram, após novos exames, que não sabiam a razão para aquilo. Não tinham explicação. Estava tudo bem nos exames.<br />
<br />
A partir daí a sua vida passou a ser um inferno.<br />
Perdeu o emprego, os amigos e a própria família a começou a rejeitar.<br />
Exalava um cheiro nauseabundo, o corpo começou a deformar-se, pelos enormes, escuros e grossos cresciam no pouco de pele que tinha. Parecia um bicho, um animal repugnante!<br />
As crianças choravam quando a viam, os homens apedrejavam-na, as mulheres benziam-se e até os próprios cães a atacavam pelas ruas.<br />
Até que um dia ao passar por um circo, um dos indivíduos do espectáculo chamou-a.<br />
A princípio desconfiou. Ficou assustada, não lhe fosse fazer mal.<br />
A medo aproximou-se e ele convidou-a a entrar numa roullotte para conversarem mais à vontade.<br />
Disse-lhe para não ter receio. Era o Dono do Circo e tinha uma proposta para lhe fazer.<br />
Começou dizendo que ela era o que ele sempre idealizara, que poderia ganhar rios de dinheiro, tornar-se famosa, rica.<br />
Após pensar, por pouco tempo, e com a sua falta de tudo, não teve outro remédio senão aceitar para garantir a sua sobrevivência.<br />
A partir daí, a rejeitada pela sociedade e o circo que a acolheu, que até aí era pobre e com poucos recursos, passaram a ter enchentes de espectadores que pagavam rios de dinheiro para ver de perto a Mulher-Bicho do Sul do País!<br />
E sob aquelas luzes fortes do palco principal, enquanto era observada por milhares de olhos ávidos em ver as suas deformidades, sonhava com a vida que tivera. Sonhava com os sonhos que almejara. Para se abstrair da vida que levava.Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-3721975341939522012010-02-09T22:25:00.000+00:002010-02-09T22:25:12.508+00:00Sonho ou pesadelo?(Um sonho da <a href="http://resteadesol.blogspot.com/">Laurinha das Résteas </a>que virou conto devidamente ficcionado, claro!)<br />
<br />
Chovia. O barulho das gotas, quentes e grossas de encontro à vidraça dominava o ambiente. Raramente chovia no Verão, mas o clima andava trocado.<br />
Cerrou os olhos e tapou-se com o lençol! <br />
Não conseguia ouvir o barulho da chuva, porque desde criança perdera totalmente a audição, mas imaginava-o: tuc, tuc, tuc, tuc, tum, tum, tum, tum!!!!!<br />
Mas o som imaginado já não parecia de chuva a bater mas sim de rufar de tambores! Lembrava-se desse som porque quando criança tinha assistido a uma dança tribal africana!<br />
Intrigada, destapou-se e viu-se num grandioso quarto de paredes de pedra!<br />
Estaria sonhando? Beliscou-se e doeu! Não estava a sonhar!<br />
Já não estava no seu quarto e... ouvia! Conseguia ouvir!!!<br />
Será que estava a viver agora e aqueles tempos estranhamente modernos eram sonhos? Será que vivia duas vidas sem o saber?<br />
Bateram à porta! Entraram duas aias apressadas e criadas carregando uma tina de água fumegante!<br />
“Depressa, senhora! Está atrasada! Adormeceu!”<br />
“Mas.. atrasada para o quê? Onde estou?” <br />
Riram-se <br />
“Senhora, senhora! Sempre brincando! Despache-se, minha senhora, porque o senhor, nosso príncipe vai partir com o exército e como é natural, quer a sua presença”.<br />
Era uma princesa!!!! Tudo o que as meninas sonham! Ela era uma princesa das verdadeiras! Não queria perder aquilo por nada! E não fosse tudo um sonho saiu apressada da cama antes que acordasse. Desnudou-se, banhou-se, vestiu-se e acompanhada pelas damas de serviço dirigiu-se para o enorme pátio do castelo!<br />
Tudo era enorme, tudo era grandioso!! Esperando por ela estava o senhor, seu sogro e Rei, a senhora, sua sogra e Rainha... e um belo jovem, alto, garboso e com um ar terrivelmente apaixonado!!! <br />
Por ela!!!!! Por ela!!!!!!!! <br />
Só podia ser um sonho!<br />
Tinha os cabelos negros cor de corvo, os olhos de um verde claro, uma pele curtida pelo sol, uma cicatriz na testa, provavelmente de algum combate, e vestia uma armadura reluzente, polida por areia que brilhava ao sol, quase ofuscando todos os outros soldados e oficiais que se perfilavam por trás de si!!<br />
Havia outras jovens. <br />
Infantas, aias e mulheres do povo. Todas bem vestidas e já com lágrimas de saudades por ver os seus homens partir para o campo de batalha!<br />
Contra o protocolo o príncipe saiu do seu local, desceu do seu negro e belo puro sangue e agarrou-a!!! <br />
Como se o mundo acabasse beijou-a dizendo-lhe belas palavras de amor ao ouvido!<br />
Derretida de paixão correspondeu e viu-se a deitar lágrimas de saudade!<br />
Partiram no meio de rufar de tambores e cânticos de guerra.<br />
Recolheu aos aposentos. <br />
Ficara cansada e esgotada pela emoção. <br />
Deitou-se sem se despir. <br />
Fechou os olhos... quando os abriu viu o marido, baixo, gordo, careca e peludo, a levantar-se despindo o pijama enquanto coçava o baixo ventre dirigindo-se ao banheiro. <br />
Tudo passara de um sonho. De um belo sonho!!! <br />
Ou estaria a viver agora um pesadelo?Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com49tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-59995992409123541902010-02-09T22:24:00.003+00:002010-02-09T22:24:57.963+00:00Apelo de DeusTinha chamado a família toda para assistir ao que ele chamava o Apelo de Deus. <br />
Concentrou-se. <br />
A noite transbordava com a sua negra luz todos os recantos da sala. <br />
O silencio imperava. <br />
Da testa de uma das tias brotava uma gota de suor a qual se apressou a secar para não interromper esse momento dito solene. <br />
Ouviu-se o miar de um felino ao longe. Silêncio. Parou. <br />
Concentrou-se. <br />
Um primo pigarreou e pediu perdão, silenciando-se de imediato. <br />
Concentrou-se. <br />
Recordou tudo da sua já longa vida numa breve fracção de segundo. Uma lágrima escorreu pela sua face. <br />
Limpou-a. <br />
Abanou a cabeça e tornou a concentrar-se. <br />
Não se lembrava de ter tido uma decisão tão importante na sua vida. Despira-se de roupas e preconceitos, apenas restando a roupa interior e o orgulho. <br />
Sempre o maldito orgulho! <br />
Sentiu o cheiro da roupa lavada. <br />
Odiou-se a ele próprio, por não conseguir concentrar-se devidamente. <br />
Correctamente. <br />
Inspirou fundo. <br />
Expirou. <br />
Buscou o seu equilíbrio interior. <br />
Sentia-se preparado.<br />
Começou. <br />
Primeiro levemente, depois com toda a força da sua alma. <br />
Apenas em roupa interior e cheio de fé. <br />
Com a sua mão esquerda começou a despir-se tendo um Callipo de limão na direita enquanto sissiava uma música tirolesa. <br />
Cada vez mais forte. <br />
Tão forte que os dentes tremiam.<br />
<br />
<br />
Apenas recordava vagamente uma linda camisa. <br />
Pena que as mangas fossem agarradas à frente.<br />
Não dava grande mobilidade. <br />
Agora, na sua nova casa na Rua Júlio de Matos ria loucamente. <br />
Deus tinha razão. <br />
Limão em gelado é muito ácido.Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-7819125976336852112010-02-09T22:24:00.002+00:002010-02-09T22:24:44.698+00:00Contos e Lendas da Dona Coelha, habitante do Monte da Lua (O Elfo da Mochila de Ouro e a Fada do Espartilho)Dona Coelha, sempre em azáfama, não parava de labutar na sua toca junto ao pinheiro real!<br />
Seus filhotes, belos e traquinas adoravam ouvir as histórias que contava.<br />
Era tão boa contadora que todos os amigos de seus filhos adoravam visitá-los só para ouvir contos e lendas daquele monte onde se situava as suas tocas. O Monte da Lua.<br />
Lá Dona Coelha parava as suas rotinas diárias para se sentar num tronco e agarrar no livro escrito por ela mesma.<br />
Nesse momento fazia-se silêncio. Os próprios pássaros paravam de cantar e as formigas deixavam de trabalhar ficando abraçadas às cigarras que largavam a guitarra ao lado de suas patas, só para ouvir aquelas palavras mágicas, ansiosos que Dona Coelha os incluísse, quem sabe um dia, nas suas histórias.<br />
E lá começava ela, impregnada de silêncio à sua volta:<br />
Era um bosque perdido. Como qualquer bosque nos dias de hoje. Perdido entre florestas de betão. Nele ainda reinava uma calma e uma serenidade de outros tempos, outras eras. Nele ainda reinava a natureza alheia aos males e problemas gerados pelo Homem, esse ser, esse vírus da natureza!<br />
Aproximamo-nos e vemos um pequeno ser todo vestido de verde escondido à sombra de um cogumelo mágico.<br />
Estava cansado. Tinha corrido toda a manhã a fugir de um pequeno zangão que o perseguia só para o ver assustado e arreliado.<br />
Sorte a dele ter passado pela cidade de campânulas onde habitam as fadas travessas do bosque.<br />
Uma pequena fada, ao vê-lo em aflição, lançou um encantamento de afastamento colocando o zangão a quilómetros dali!<br />
Nesse momento todos aplaudiram. Todos menos os zangões que não gostaram do rumo da história. Dona Coelha, continuou:<br />
Ele agradeceu e quando olhou directamente nos olhos da fada, ficou terrivelmente apaixonado.<br />
Como era bela, como era graciosa!! Isto a seus olhos.<br />
A fada que o salvara era conhecida na cidade das campânulas por Fada do Espartilho.<br />
Graciosa, mas mais redonda do que costumam ser. <br />
Bonita, mas mais simples do que as fadas costumam ser.<br />
Mas tinha o seu encantamento, a sua magia própria que aos olhos daquele pequeno duende verde a fazia ser a criatura mais bela de todo o universo.<br />
Ela tinha uns olhos tristes por nunca ter conseguido encontrar o amor. Tinha um sorriso medroso por não ter confiança em si própria e mesmo sendo malandra e travessa como qualquer fada, tinha receio no que poderia dizer para não ser mal interpretada ou que gozassem com ela. Até tinha colocado uns óculos de orvalho da manhã para que não vissem a tristeza alojada nos seus olhos!<br />
"Obrigado, linda dama dos bosques" disse ele à laia de agradecimento.<br />
Ela intrigada por a tratarem tão ternamente e por termos a que não estava habituada, olhou à sua volta. Mas não! Era para si mesma!<br />
Sorriu, um sorriso tonto, confuso, atrapalhado e disse.<br />
"Não foi nada que me tivesse custado, querido elfo! Quando vejo alguém em aflição gosto de ajudar, ao contrário de algumas minhas irmãs que gostam de ainda provocar mais incidentes. Mas o que fazes por aqui? Nunca te vi por estes lados?"<br />
"Bem, na verdade eu moro aqui, linda fada. Já te tinha observado, mas vocês não reparam em nós, pequenos elfos. Andamos sempre escondidos entre as ervas, para não sermos apanhados por algum predador Como te posso tratar? Não sei o teu nome!"<br />
"O meu nome é Little Mary, mas todas as minhas irmãs me chamam de fada do espartilho, por ser um pouco mais rechonchuda que elas, sabes?"<br />
"Isso é porque elas não conseguem ver a tua beleza!"<br />
Ao dizer isso a fada deu um sorriso do tamanho do mundo e o sol brilhou ainda mais alto!<br />
E as coelhas que ouviam a história começaram a bater as patas no chão, de satisfação. Dona Coelha pediu silêncio e continuou:<br />
"Desculpa, mas sou muito curiosa! O que tens às costas?"<br />
"Isto? Ah! Isto é a minha Mochila de Ouro!"<br />
"Mochila de Ouro? Para que serve?"<br />
"Eh eh eh. Acho graça tu perguntares. Os elfos da minha espécie trazem sempre consigo uma mochila de ouro às costas, para quando necessitam de agradecer a alguém, abrem-na e de lá sai o que os outros, e até ele, mais desejam. Mas é sempre um mistério até ser aberta. A mochila é muito misteriosa! E acho graça porque não é hábito qualquer ser vivo, seja ele fada encantada ou não, a ver. É uma mochila mágica que apenas os elfos e outros seres especiais conseguem ver. Vejo que tu és muito, muito especial"<br />
Disse isso com um sorriso travesso que lhe fazia brilhar os pequenos olhos.<br />
E ela tornou a sorrir.<br />
"E... e vais abri-la?'"<br />
"Claro, Little Mary, mereces."<br />
Nesse momento um grito de alegria brotou das gargantas de todos os que ouviam a história.<br />
Dona Coelha, nada agradada fechou o livro, fazendo um ar de reprovação. Não gostava nada de ser interrompida.<br />
Engoliram em seco pedindo desculpa, ao que Dona Coelha retorquiu que se fosse interrompida uma só vez mais, acabaria ali com a história!<br />
Mas continuou:<br />
A fada, curiosa como todas as da sua espécie levitou um pouco com a ânsia de ver o que saia da mochila e pousou ao lado do Elfo.<br />
Ele retirou a mochila das costas colocando-a no chão! Abriu-a e enfiou a sua mão pequena e graciosa dentro dela!<br />
De lá saiu um pó verde que se espalhou no ar que os rodeava.<br />
Nesse preciso momento eles viram o amor que sentiam um pelo outro, viram o seu futuro radioso e feliz juntos, as filhas fada e os filhos elfo que iriam ter e nesse instante, olhando um para outro e sem palavras para descrever o forte sentimento que sentiam, embrulharam-se num beijo doce e travesso que foi festejado por todo o bosque.<br />
Um novo amor tinha nascido na Mãe Natureza. O ciclo prosseguia!<br />
Dona Coelha fechou o livro e olhou em sua volta.<br />
Todos os seres e criaturas do bosque que a ouviam, estavam unidos no amor e na amizade, silenciosos, de lágrima fácil ao canto do olho e com um espírito de união mais forte do que quando começara a contar o seu conto. <br />
O que viu fê-la sentir-se feliz. Mais uma vez tinha conseguido os seus intentos!<br />
A Natureza vencera. O ciclo de amor prosseguia!<br />
<br />
(Roderick tales - Contos de Roderick)Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com35tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-25422298531188232372010-02-09T22:24:00.001+00:002010-02-09T22:24:27.542+00:00Lua triste, triste LuaTriste, sentia-se a lua, olhando o espaço infinito!<br />
Triste porque precisava que alguém a animasse...<br />
Triste porque andava pensativa e preocupada ...<br />
Olhava para a Terra, bela e azul e dizia baixinho “Não me vês, não me sentes ... foges! Tens medo que te chame de volta e não sabes o que fazer! E quando tens o azar de me ouvir... Apoio ??? Palavras de consolo ??? ânimo ??? Carinho??? Onde estão? Já nem ao meu luar os namorados de outrora se sentam. Preferem o calor do Sol, a vibração do quente na pele!”<br />
<br />
Há muito que a Terra lhe tinha virado costas.<br />
Habituou-se a estar, a pensar, a animar-se sozinha... e a agarrar o que mais lhe dava alegria! Pequenos asteróides que passavam e lhe beijavam a pele.<br />
<br />
“Mas Terra, porque não me sorris mais?... precisas de mim e eu preciso de ti.<br />
Para haver equilíbrio entre nós. Para haver equilíbrio no nosso universo. Se pensas que para mim ser feliz é isto ... não é. Aguento o silêncio, a solidão, mas não aguento as palavras duras que dizes. Que é bom é olhar para o sol, receber a sua luz, o seu calor!<br />
Andas sempre à volta dele. Daquele grande e belo astro, eu sei. Por mais que dê voltas sobre ti, viraste-me costas. Não me bates ... mas magoas muito ! Inventaste histórias maléficas sobre o que acontece quando eu estou no teu domínio. Refugias as tuas criaturas quando eu apareço... Eu sei que não sou perfeita, sei que o sol é necessário e tenho a perfeita noção que não sou difícil de aturar, mas... tenho bom coração. Disse-te que estava triste e tu ...”<br />
<br />
Chora Lua, triste é o teu coração!Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com39tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-13282165640945849812010-02-09T22:24:00.000+00:002010-02-09T22:24:12.315+00:00CoelhomemDona Coelha andava atarefada em busca de quem tinha bebido o elixir de mirtilos.<br />
Tinha um segredo, essa beberagem cuja receita passava de mãe para filha há muitas gerações na sua família!<br />
De sabor fantástico, era muito apreciado por todos os que o provaram, mas tinha um problema. É que tomado em demasia provocava alucinações.. e possíveis alterações genéticas!<br />
A Dona Coelha bastava encontrar quem estivesse a agir de um modo estranho. Já não via o seu terceiro filho da sexta ninhada, pelo menos desde manhã! Pelico de seu nome, era muito travesso. Andava sempre a fazer asneiras. Não se admirava que fosse ele. Mas tinha de o encontrar antes que fosse tarde!<br />
Perguntou por todo o bosque até que Senhor Texugo lhe disse que o tinha visto lá para o lado do monte das avelaneiras.<br />
Dona Coelha entrou em pânico. Era aí que os caçadores costumavam fazer piqueniques com suas famílias. Pelico arriscava-se a ser guisado nesse dia!<br />
Dona Coelha correu como se um demónio viesse atrás dela! Parecia que ia mais veloz que o vento. As próprias folhas levadas pela aragem riam-se de ver uma coelha correndo tanto. “Onde vais com tanta pressa, coelha? Foges de alguém”, perguntavam os pequenos pássaros que a acompanhavam até se cansarem tal a velocidade e rapidez que ela ia!<br />
Chegou ao bosque das avelaneiras. Estava tudo calmo. Não se via vivalma. De repente, mesmo à sua frente, um homem, rude e mal encarado, como todos eles são, estava a olhar para si! Tinha os olhos arregalados de tão abertos que estavam e preparava-se para lhe saltar em cima. Para a apanhar! Onde já se viu? Com homens destes Dona Coelho podia! O pior seria se viesse um caçador. Com um pequeno pulo fugiu e depressa se escondeu num arbusto! Começou a chamar pelico, mas este não lhe respondia. Foi andando, andando... até que o viu. O coração saltou-lhe no seu pequeno peito! Pelico estava vivo, mas numa gaiola. Reconhecia aquele olhar entre mil! A diferença é que Pelico... crescera incomensuravelmente! Estava um coelho brutal, enorme, gigantesco. Tinha sido utilizada uma gaiola de ursos para o capturar!<br />
Crianças brincavam próximo dele. Pelico dormia. Pela sua aparência via-se que tinha dado luta antes de ser agarrado. Viam-se algumas feridas na sua pelagem, mas nada que desse preocupação. Dona Coelha aproximou-se e chamou-o! Pelico acordou e num misto de felicidade e pânico pediu ajuda a sua mãe! Em conjunto conseguiram roer as grades de madeira e pelico escapou com a mãe. Ambos correram o mais depressa que podiam. Se bem que pelico ao correr abanava tudo à sua volta e chamava muito a atenção!<br />
As crianças gritaram em pânico, chamando os adultos, mas por essa altura já Pelico diminuía de tamanho. O efeito da poção estava a passar.<br />
Quando chegaram a casa já Pelico estava do seu tamanho normal.<br />
Dona Coelha repreendeu o filho ao que este contou que tinha bebido bastante da poção, mas tinha entornado, sem querer o resto não sobrando nada. Com medo de sua mãe, fugiu de casa e quando deu por si estava perdido! Sentiu dores no corpo e começou a crescer sem parar.<br />
Depois apareceram aquelas crianças com adultos. Ainda conseguiu fugir, mas ficou encurralado numa gruta e ... o resto a mãe já sabia!<br />
Dona Coelha abraçou-o, dando-lhe um grande beijo e pediu que na próxima vez, enfrentasse os seus medos, porque tudo o que estava para além daquele pequeno bosque era muito pior do que qualquer castigo que sua mãe lhe poderia dar.<br />
Nessa noite, de dentro das suas tocas viram homens com armas, forquilhas, pás e archotes nas mãos em busca de algo que os atemorizava!<br />
Um gigantesco Coelhomem!!!!Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com35tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-44140368621087083822010-02-09T22:23:00.001+00:002010-02-09T22:23:56.600+00:00A serpente e a (Maçã?) ReinetaFora bela, dizia-o à boca cheia para todos ouvirem. E queria continuar a ser bela. Pretendia continuar a ser jovem, magra e esbelta, custasse o que custasse.<br />
Henricunda Reineta era aquele tipo de mulher que detestava envelhecer! Cada ruga na sua face era um martírio na sua vida. Cada prega no seu corpo era o cabo das tormentas e cada pedaço de gordura na sua silhueta era como um vírus alojado em si.<br />
Tentava tudo o que estava ao alcance para voltar a ter uma pele suave de bebé! Experimentava banhos de leite de burra, tomava bebidas intragáveis só porque ouvia dizer que tinha resultado com este ou aquele, expunha-se a operações cirúrgicas, fazia tudo o que podia para recuperar a juventude, tudo para voltar a ter o corpo que tivera há 30 anos atrás! <br />
Mas o galopar do tempo era irreversível!<br />
Era uma mulher irascível. O próprio marido, gente boa, não suportava as suas mudanças de humor. Não fosse um paz de alma e já se tinha divorciado há muitos anos. Pensara nisso muitas vezes, mas nunca tivera coragem de o fazer!<br />
Henricunda “dava no ferro” todos os dias no ginásio para tentar abater aqueles quilos que estavam a mais na sua barriga, nas suas ancas, no seu pescoço, na sua figura, mas depois cá fora, Henricunda terminava sempre as refeições com um duchaise, bolo rico em chantili e farto em calorias. Para não entrar em fase de engorda, tomava sempre um café, no final das refeições, com adoçante. “Açúcar não, que engorda” dizia Henricunda ao empregado, lambendo ainda os beiços dos restos de chantili do seu bolo do pecado! “Um de vez em quando, não faz mal”. Esquecia-se era de dizer que esse de vez em quando era diário!<br />
Além de ter a ambição de possuir uma figura esbelta, também tinha um defeito terrível. Uma grande língua bifurcada! Gostava de morder os outros com as suas tiradas venenosas. Mas sempre pelas costas. Adorava espalhar veneno. Mas nada pela frente. Não era correcto.<br />
Certo dia, Henricunda, aconselhada por uma colega, foi a uma ervanária muito famosa na capital. Ia aconselhada a solicitar ervas verdes de emagrecimento. A suposta amiga que Henricunda como hábito não suportava, dissera-lhe para comentar com a ervanária que pretendia tirar o veneno da gordura do corpo e rejuvenescer as células, que ela compreenderia. Eram palavras de código, disse-lhe a colega. <br />
Henricunda, feliz da vida, lá foi para a ervanária, não sem antes comentar com um colega que aquela coleguinha era estranha porque, tinha ouvido, frequentava locais pouco aconselháveis, como ervanárias!<br />
E lá foi ela em segredo.<br />
Fez como a colega lhe dissera. Disse que vinha em busca de ervas verdes de emagrecimento para tirar veneno da gordura do corpo e rejuvenescer as células.<br />
A ervanária observou-a com um ar sério e retirou-se para um cubículo escondido por detrás do balcão.<br />
Voltou com um pequeno saco cheio de ervas verdes iguais a todas as outras que estavam expostas. <br />
Sorriu, com pouca vontade, pagou e saiu.<br />
Chegou a casa e fez como estava no descritivo que vinha colado no pequeno invólucro de plástico.<br />
Ferveu as ervas com água e sal marinho, juntando um pau de canela no fim para melhorar o sabor.<br />
Bebeu tudo de uma vez e repetiu a dose. Não faria mal se tomasse duas vezes.<br />
Primeiro sentiu um calor no estômago. Deveria estar a fazer efeito. Depois sentiu uma dor e um calor a subir pelo corpo. Deixou de ver. Uma dor enorme toldou-lhe os sentidos. Caiu em agonia no chão. Contorcia-se como um animal selvagem no esgar da morte. Tentou gritar mas nada saiu. Desmaiou.<br />
Quando acordou teve uma sensação enorme de leveza, sentiu-se mais bela, mais esguia, mais elegante.<br />
A última coisa que viu foi uma gigantesca pá, na direcção da sua cabeça. Ficou desfeita em mil bocados.<br />
O marido de Henricunda suava, tal o estado nervoso em que se encontrava! Ermitão Reineta chegara a casa na hora certa. Quando a viu, correu logo para o jardim agarrando uma enorme pá que estava encostada a um canteiro.<br />
Com passos de lã aproximou-se e quando ela se voltava na sua direcção deu-lhe uma pancada forte e certeira mesmo no meio da cabeça peçonhenta. Colocou-a num saco e deitou-a no lixo, no exterior da casa.<br />
Como teria ido parar dentro de casa aquela cobra verde, comprida e viscosa? <br />
Chamou por Henricunda, esperando ouvir a sua voz irritante.<br />
Ninguém respondeu. Sentiu-se bem por estar na solidão sem ter de ouvir a voz irritante de sua mulher, pelo menos até ela chegar a casa. Encostou-se no sofá, abriu o jornal e leu as notícias em paz.<br />
A poucos quilómetros dali a colega de Henricunda continuava a trabalhar, mas com um enorme sorriso nos lábios!Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com54tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-65648431167250980602010-02-09T22:23:00.000+00:002010-02-09T22:23:42.715+00:00Valsa dos PlanetasVaidosa ia a Terra na sua órbita sobre a estrela mãe. <br />
A Lua na sua pequenez, bonita e árida, apenas sorria enquanto lhe fazia companhia lançando sobre ela a frescura do luar.<br />
Rodava sobre si para olhar para os outros astros irmãos.<br />
Para ver seus olhares. Para ouvir seus sussurros, sobre como era bela.<br />
Azul, não muito grande, mas também não muito pequena. <br />
Mas de um azul lindíssimo que fazia ruborizar o seu planeta irmão, Marte, planeta telúrico como ela, sua irmã!<br />
Marte, também conhecido por Deus da Guerra, tinha a alcunha de Estrela Vermelha, porque era assim que era visto de noite.<br />
Mas o mais pequenino era Mercúrio. Também era o mais aquecido pelo Sol e era muito mais rápido que seus restantes irmãos.<br />
Vénus, era a irmã bela, a Deusa do Amor. Tinha um corpo como a irmã Terra e gostava de ser tratada como Estrela D’Alva.<br />
Eram os quatro irmãos Telúricos, compostos de rochas e silicatos.<br />
<br />
Urano, personificando o céu, olhava invejoso para a rota da Terra. Lendas diziam que ele fora gerado por Gaia, a Terra, mas também sua antiga paixão. Histórias antigas que nunca se resolveram a bem!<br />
Plutão, ao contrário de seu nome, era pequenino e engraçado. Vivia inclinado em relação aos seus irmãos, tomando um rumo diferente deles na sua vida.<br />
Saturno, era o mais vaidoso, com os seus belos anéis. Gostava de os mostrar a quem quer que passasse. Mas fervia em pouca água. Era muito gasoso.<br />
Neptuno, planeta anão, como Mercúrio, era o irmão mais velho. Tinha doze filhas, doze luas, das quais a mais conhecida era Tritão!<br />
Júpiter, do alto da sua grandeza e imponência observava os irmãos. Também tinha quatro filhas e também ostentava anéis.<br />
Eram os irmãos gasosos que se gostavam de juntar aos pares.<br />
O Sol era a estrela central onde gravitavam. Esfera de plasma que aquecia os filhos.<br />
O Sistema Solar abraçava os seus planetas, os filhos dos planetas e o sol, no seu regaço. Sem idade definida era sábio e poderoso. Sua origem era Nebulosa.<br />
No meio de todos existia o Espaço Sideral, com os seus vazios e atmosferas. Ninguém o via, mas sabiam que estava lá! Dominando tudo. O Universo, a Totalidade das coisas, o Todo Inteiro!Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com38tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-1154303139501731232010-02-09T22:19:00.001+00:002010-02-09T22:19:51.244+00:00ALMA MATER<a href="http://photos1.blogger.com/blogger/3581/1921/1600/Alma%20Mater.jpg"><img alt="" border="0" src="http://photos1.blogger.com/blogger/3581/1921/400/Alma%20Mater.jpg" style="cursor: hand; display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center;" /></a><br />
<br />
<br />
Título: "Alma Mater"<br />
<br />
Hoje vou começar a colocar fotos tiradas por mim.<br />
<br />
Quando exponho fotografia uso o pseudónimo de "Roox"<br />
<br />
Espero que seja do vosso agrado.<br />
<br />
AbraçosConversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com18tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-1154647845884413722010-02-09T22:19:00.000+00:002010-02-09T22:19:27.894+00:00In Nomine Dei<a href="http://photos1.blogger.com/blogger/3581/1921/1600/In%20nomine%20dei.jpg"><img alt="" border="0" src="http://photos1.blogger.com/blogger/3581/1921/400/In%20nomine%20dei.jpg" style="cursor: hand; display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center;" /></a><br />
<br />
<br />
Aqui vos trago mais uma foto minha.<br />
"In Nomine Dei" é o título que lhe coloquei.<br />
<br />
Pois é. <br />
Nesta nossa sociedade em que quase todos somos católicos, não fervorosos e a maior parte não praticante, a maior parte das vezes só nos lembramos de Deus quando estamos com problemas.<br />
Daí ter-me recordado de colocar esta foto hoje.<br />
Não quer dizer que seja o meu caso, mas tenho vivido alguns momentos muito complicados.<br />
Principalmente com o meu Eu interior. Ir ou não à "faca".<br />
Há cerca de dois anos, mais coisa, menos coisa, tive grandes dores de estômago e, pior que tudo, deitei sangue nas fezes.<br />
Assustei-me. <br />
Falando mal, borrei-me de medo.<br />
Enchi-me de coragem, fui ao médico, expliquei-lhe a situação e ele aconselhou-me a fazer uma Colonoscopia.<br />
Mas como a Ana estava grávida, pensei: <br />
- Se tenho alguma coisa, ainda me começam a cortar por dentro e lá vou eu desta para melhor e nem vejo o bebé.<br />
<br />
Agora dois anos depois, aconteceu-me o mesmo, mas pior. <br />
Deixei de fazer necessidades fisológicas de carácter sólido durante bastantes dias. Tinha dores enormes no estômago, do meu lado esquerdo. <br />
E... sangrava (mas principalmente após muito esforço para "fazer" qualquer coisa).<br />
Fui, mais uma vez, ao médico.<br />
Levei na cabeça, com razão.<br />
Mas desta vez, decidi. Vou mesmo fazer a Colonoscopia.<br />
Fiz análises ao sangue e fezes para ver se tinha alguma coisa má e, felizmente, deu negativo.<br />
Ontem fui fazer a Colonoscopia. Como fui sedado, não custou nada.<br />
O pior foi a preparação.<br />
Comecei às sete da manhã a tomar um medicamento em pó dissolvido em três litros de água.<br />
Horrivel. Nojento mesmo.<br />
Os três litros de água deram para dezasseis copos. <br />
Oito copos por cada litro e meio.<br />
De dois em dois copos vomitava. <br />
E tinha de fazer um esforço enorme para não vomitar mais. <br />
Já não conseguia ouvir nem ver nada. <br />
Apaguei a televisão e olhava só para o relógio. <br />
De 15 em 15 minutos tinha de tomar um copo. <br />
E nem imaginam como os 15 minutos passavam a correr.<br />
Ao fim de oito copos e de litro e meio de puro terror, cheguei à conclusão que não conseguia beber a outra garrafa.<br />
Mas enchendo-me de coragem e já sem me preocupar se vomitava ou não, lá consegui.<br />
O pior é que vomitei tanto que já "deitava" sangue junto.<br />
O médico mais tarde, disse-me que isso é normal. Tem a ver com o esforço.<br />
Quando terminei, bebi um café, para tirar aquele sabor horrivel, porque só podia beber café, chá e pouco mais até às 12h30. <br />
A partir daí, jejum total. Nem água podia beber.<br />
E já nos dois dias anteriores estava totalmente proibido de comer legumes e fruta. Não imaginam como estamos dependentes de legumes e fruta sem o notarmos.<br />
Tudo o que queria, parecia legume e fruta. <br />
Eu já duvidava se frango ou carne de vaca não seriam legumes.<br />
Enquanto almoçava estava à espera de ouvir uma qualquer notícia a informarem os bons dos consumidores que os cientistas tinham descoberto que, afinal os frangos criados em aviário eram, nem mais nem menos, leguminosas ambulantes.<br />
<br />
Chegou a hora da Colonoscopia. <br />
17h40 da tarde. <br />
Hospital Particular de Lisboa.<br />
Apresentei-me lá, com a minha Fada, Ana para os amigos, e mandaram-me vestir uma bata aberta nas traseiras e um robe branco, quentissimo naquele dia de verão, por cima da bata, e... esperar. <br />
Sempre esperar. <br />
Nunca mais resolviamos aquilo.<br />
Até que o Médico espreitou pela porta da sala de espera. <br />
Cumprimentou-me, dirigiu-me umas palavras de circunstância, que aquilo não era nada, ia ver, até gostava (livra), não ia sentir nada, etc, etc.<br />
Entrámos no gabinete de provas (de provas, esta é gira) e apresentou-me a colega, anestesista, muito simpática. <br />
Viu-me tenso, também fez conversa e aproveitava para me injectar.<br />
Deu-me uma primeira anestesia já o médico se preparava para começar. <br />
Deu-me uma segunda e o médico já estava a começar. <br />
Comentei com ela: <br />
- presumo que já devia estar sedado, não? <br />
Ao que ela retorquiu: <br />
- Vai ver que agora com esta já não sente nada.<br />
Dito e feito. <br />
Só me lembro de ver uma enorme seringa com um liquido espesso, branco e.... vazio.<br />
Acordei já na sala de recobro com a Ana ao meu lado.<br />
Eu totalmente dopado.<br />
Ela com lágrimas nos olhos.<br />
E eu mesmo totalmente drogado com a anestesia deu-me para... falar. <br />
Falar. <br />
Falar sem parar.<br />
A enfermeira passou e comentou que eu no dia seguinte não me iria lembrar de metade do que disse. <br />
Agora, lembro-me dos assuntos que falei, mas do seu conteúdo só me lembro vagamente.<br />
Antes de sairmos, as notícias clinicas.<br />
O médico informou-me que tenho um polípo com sete cms (acho que é 7 cms, estava dopado) e como é muito grande, não era possível tirá-lo sem uma operação. <br />
Retirou amostras para biópsia, que só estão prontas no próximo dia 16 de Agosto.<br />
Disse que a operação resolve o problema mas é <strong>Muito Dolorosa</strong>, reafirmou ele por diversas vezes.<br />
Conclusão:<br />
Já ninguém me tira um "Andar Novo".<br />
<br />
Só espero que seja no Algarve.Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-52036035354227149242010-02-09T22:18:00.001+00:002010-02-09T22:18:32.640+00:00Luz<div style="width: 300px;"><object height="110" width="300"><param name="movie" value="http://media.imeem.com/m/-ko40hwmFr/aus=false/"></param><param name="wmode" value="transparent"></param><embed src="http://media.imeem.com/m/-ko40hwmFr/aus=false/" type="application/x-shockwave-flash" width="300" height="110" wmode="transparent"></embed></object><br />
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<br />
Luz era o amado do Senhor<br />
E o Senhor era Amor<br />
<br />
Luz era a alvorada de milhares de mundos<br />
E o Senhor o seu Criador<br />
<br />
Luz era a Luz da Vida para milhões de povos<br />
E o Senhor era a Vida<br />
<br />
Luz era o preferido do Senhor<br />
E o Senhor o escolhera<br />
<br />
Era o Protegido, O Ungido, O Filho dilecto<br />
O Senhor amava-o, como carne de sua carne<br />
Ser do seu ser, espírito do seu espírito<br />
<br />
Luz era feliz<br />
Anjo de mil asas<br />
Arcanjo de mil luzes<br />
Bebia da Sabedoria do Universo<br />
Comia do Equilíbrio do Universo<br />
<br />
Mas Luz começou a ver pelos seus olhos que algo estava errado<br />
Levantou dúvidas acerca de alguns actos do Senhor<br />
<br />
Luz perguntava porque o fazia se não era correcto<br />
Mas o Senhor, como era Amor, não respondia<br />
Porque o Amor é mudo e não fala<br />
<br />
Luz queria fazer ver ao Senhor a sua incompreensão<br />
Mas o Senhor Como era Amor, não via<br />
Porque o Amor cega e não deixa ver<br />
<br />
Luz gritava o seu assombro<br />
Mas o Senhor, como era Amor, não ouvia<br />
Porque o Amor é surdo e não deixa ouvir<br />
<br />
E Luz definhou, entristeceu<br />
Sentiu revolta no seu Coração<br />
Perdeu seu brilho, sua cor, sua alegria<br />
<br />
E o Senhor, do alto do seu amor… não gostou<br />
E renegou Luz e sua Sabedoria<br />
Por colocar em causa os seus actos<br />
As suas atitudes, as suas decisões<br />
<br />
As asas, Luz perdeu<br />
Arcanjo do Senhor deixou de o ser<br />
Anjo do Reino, deixou de o pertencer<br />
<br />
E o Senhor despenhou-o<br />
Para bem longe do olhar e da compreensão<br />
Para bem fundo da alma e do espírito<br />
Para uma terra sem nome e sem esperança<br />
<br />
E Luz não compreendeu<br />
Como o Senhor<br />
Como o Amor<br />
Podia ser tão cruel<br />
<br />
E Luz tornou-se ódio, <br />
Ódio que fere<br />
Tornou-se Lúcifer<br />
Tudo por causa do AmorConversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com33tag:blogger.com,1999:blog-19417697.post-33814569399777514662010-02-09T22:18:00.000+00:002010-02-09T22:18:06.985+00:00O galho de Albino PessegueiroAlbino Pessegueiro, jovem pouco dado à inteligência era, de facto, feliz.<br />
Sentia-se bem no seu pequeno mundo. <br />
Tinha amigos. Os poucos a que ele assim chamava ou o queriam gozar ou eram no verdadeiro sentido da palavra, amigos.<br />
Sua mãe, Emília Pessegueiro, nome de árvore por parte do marido após casamento, era uma costureira afamada e uma grande beata religiosa. Tinha a casa sempre cheia de alegres clientes, senhoras que não prescindiam de seus serviços, as quais, muitas delas, recrutadas nas manhãs passadas na igreja.<br />
Antão Pessegueiro, pai de Albino era um homem pouco atraente e de poucas palavras, mas que gostava de “pescar sem linha” entre as clientes de sua mulher! Beatas que não perdiam uma oportunidade de pecar para logo a seguir se confessarem.<br />
Antão nunca soube se sua mulher era assim tão boa costureira ou se as clientes apenas frequentavam o atelier de Emília, pura e simplesmente por causa dos atributos do seu pessegueiro, como ele carinhosamente chamava ao habitante do seu baixo ventre!<br />
Albino tinha problemas com os pais. Ambos exerciam sobre ele um controle exagerado para um jovem adolescente. <br />
Albino era virgem. Nunca o confessara, mas não necessitava de o fazer já que todos sabiam que ele fugia das moças de sua idade como o diabo foge da cruz. Era extremamente envergonhado e quando alguma lhe dirigia a palavra, além de não dizer coisa com coisa, babava-se entre palavras mal balbuciadas, o que originava medo e repulsa por parte do sexo feminino.<br />
Albino Pessegueiro estava na altura de quebrar alguns galhos próprios da sua idade, mas dada a sua total inoperância para entrar em contacto com esses seres tão puros e delicados do sexo feminino, visão deturpada dada pelos pais, tentou aliviar a sua libido sozinho.<br />
Pediu, a modos que envergonhado, umas revistas onde apareciam aquelas criaturas divinais, como vinham ao mundo, a um amigo dos verdadeiros, e resolveu fechar-se no seu quarto já em posse delas.<br />
Desnudou-se, ficando apenas tapado com um lençol na sua cama.<br />
No momento em que se preparava para conhecer o sétimo céu, enquanto olhava para a imponência de um par de seios que davam para alimentar uma família numerosa, sua mãe abriu a porta do quarto com uma brusquidão tal que fez com que Albino se assustasse, desse um salto da cama e ficasse todo nu perante ela! A vontade já ia bastante avançada e o galho “cedeu” dando lugar a um lançamento brutal de seiva, atingindo directamente a senhora sua mãe mesmo no meio do peito!<br />
A senhora, que já estava extremamente chocada com o que via, ao ver-se naquela situação saiu do quarto aos gritos com as mãos nos cabelos!<br />
O pai apercebendo-se de que algo se passava foi em socorro de Emília. Levou a mulher à casa de banho para se limpar e com toda a calma do mundo dirigiu-se para o quarto do filho.<br />
Albino já tapado com o lençol, tremia como varas verdes. Ao ver o pai borrou-se em desculpas, babando tudo o que estava à volta com a saliva que saia de sua boca.<br />
O pai acalmou-o e disse-lhe “Meu filho, tens de ver que ao apelares à “irmã da canhota” para aliviares o sentimento de pecado que tens dentro de ti, apenas fazes com que atraias doenças como a tuberculose. Corres esse risco! Tens de aguentar esse desejo e vais ver, daqui a uns anos vais encontrar o lugar certo para colocar o galho do teu pessegueiro, como aconteceu com o pai e a mãe”<br />
Ao dizer isso lancou ao filho um sorriso beatifico!<br />
“Perdoe pai! Não volta a acontecer” Disse Albino, chorando baba e ranho!<br />
Os anos passaram. A senhora sua mãe ficou marcada com aquela imagem para toda a sua vida! Cada vez que se recordava ficava lívida e cheia de suores frios, desatando a correr para ir vomitar!<br />
Albino cresceu forte e feliz. No seu pequeno mundo. <br />
Arranjou emprego numa fábrica de chaves. Aprendeu a profissão e abriu a sua, colocando-lhe o nome de “Fábrica do Galho do Pessegueiro”. <br />
Experimentava todas as fechaduras com o seu "galho de pessegueiro" antes de as colocar à venda. Nunca soube se era aquele o local que se pai se referiu para colocar o galho, mas também nunca teve coragem de perguntar. <br />
Albino continuou a não dizer coisa com coisa quando falava com senhoras e babava-se frequentemente.<br />
Ao que consta continuou virgem até ao fim dos seus dias. Isto é, se não contarmos com as fechaduras que passaram pelo seu galho.Conversa Inútil de Roderickhttp://www.blogger.com/profile/00083757344878535125noreply@blogger.com42