Tonho Semanas sempre se dera bem com todos os vizinhos e com quem ele se cruzava.
Quer fosse na rua, no trabalho, na praia ou até mesmo num restaurante ou numa partida de futebol.
Contavam-se pelos dedos de uma mão os inimigos que tinha tido ao longo da sua vida.
E, atenção, que Tonho tinha a falta de um dedo na mão direita!
Era um indivíduo daqueles que, onde quer que estivesse, criava uma aura positiva, de felicidade e boa disposição.
Talvez por isso lhe tenham colocado a alcunha de brincalhão alegre.
Ou palhaço alegre pelas costas, como alguns “amigos” diziam.
Mas ele não se importava. O que queria era ser feliz e fazer os outros felizes. Adorava fazer bobagens, palhaçadas para que se rissem e o vissem como um tipo bonacheirão e contente com a vida.
Os vizinhos costumavam dizer que a casa dele parecia um circo, tanta a brincadeira e alegria que de lá emanava.
Como tinha um jardim adorava fazer pequenas peças de teatro para os filhos dos vizinhos, mas os pais acabavam por vê-las também, já que gostavam de ver Tonho Semanas a imitar vozes como se de um verdadeiro artista de teatro fosse. Era um dom que tinha, mas nunca teve a sorte de ser descoberto por alguém.
Mas isso nunca o incomodara. Sentia-se feliz com a vida e isso é que era importante.
Seguia a vida sem que ninguém o importunasse, até que um dia tudo mudou.
Quando viu aquele homem fardado a tocar à porta da sua pequena quinta, nunca pensou no que o destino lhe reservara!
- Boa tarde, presumo que seja o Senhor Tonho Semanas, correcto?
- Sim, senhor. Mas entre, entre – disse abrindo o portão de par em par para que o agente da lei pudesse entrar.
- Obrigado, senhor Tonho! Presumo que saiba ao que venho!
- Hmmm, não! Sinceramente não, mas de certeza que me vai dizer.
- Pois claro, pois claro. Quero que saiba que nos chegou ao conhecimento de que o senhor possui toupeiras no seu jardim. Foi um vizinho seu que o comentou no café da vila.
- Sim, é verdade! Já tentei fazer alguma coisa, mas não consegui nada. Estão sempre a esburacar-me o relvado todo. Já não é a primeira vez que alguém se magoa.
- Pois, mas isso não é do nosso interesse. O que nos preocupa é que as toupeiras não estão registadas.
- Desculpe?!?!?!?!?!
- Não estão registadas. Com a nova lei, que saiu esta semana, o senhor tem de registar as toupeiras que se encontram no seu jardim e, mais importante, não pode adquirir novos espécimes, com o risco de ser preso. Sim, porque multado já o vai ser!
- Mas isto é de loucos!
- O quê!!!!
Ao ouvir isso, o agente da autoridade sacou do telemóvel e ligou para a Central.
- Atenção. Temos um 665. Temos um 665.
Ainda Tonho Semanas não tinha tido tempo de acabar uma frase com o tempo de duração do muito célebre “o rato roeu a roupa do rei da Rússia” já os agentes da autoridade o levavam preso e devidamente algemado.
Ainda contratou um bom advogado da praça, mas sem o saber o dito advogado era um acérrimo defensor dos direitos dos animais e não o ajudou, subtilmente, em nada, tendo Tonho Semanas sido acusado de posse ilegal, maus tratos, tráfico e escravatura de animais exóticos para fins ilícitos.
Foi parar a uma prisão de Alta Segurança e só de lá saiu meses depois para ser encaminhado para um hospital psiquiátrico, por lhe ter sido diagnosticado insanidade mental.
O Ministério, ao saber do sucedido, congratulou-se e deu como exemplo o caso de Tonho.
Entretanto as toupeiras proliferaram e dominaram todo o relvado de Tonho, tendo mesmo as mais antigas se mudado para dentro de sua casa.
Stop the world, I wanna get out!
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TOC-TOC-TOC
*Pai Natal:* Epá, já disse que não quero mudar de operador de
electricidade, tenho fidelização com a Vodafone até 2029 e já dei para o
pe...
Há 6 horas
8 comentários:
tu arriscas-te a dar ideias ao governo, sabias?
será que o tonho, na prisão, apanhou chatos ou piolhos e agravou a pena?
E que toupeiras kkkkkk!!!
bjs
Excelente conto, surrealista q.b.!
Mas sim, arriscas-te a que os gajos-da-caça-à-multa te roubem a ideia... :)
Beijocas!
Pois é, vicio, qaulquer dia já nem se pode ter toupeiras no jardim!!!
Adriana, cá por mim, foram as toupeiras que engendraram tudo!
Teté, podes crer! Beijocas.
Chego a acreditar que isso possa acontecer, viu? Dessa justiça do mundo em que vivemos já não duvido de nada...
Maria, hoje em dia, já acredito em tudo!
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