quarta-feira, outubro 14, 2009

O caso das toupeiras ou, porque se deve registar um animal para não sofrer consequências

Tonho Semanas sempre se dera bem com todos os vizinhos e com quem ele se cruzava.
Quer fosse na rua, no trabalho, na praia ou até mesmo num restaurante ou numa partida de futebol.
Contavam-se pelos dedos de uma mão os inimigos que tinha tido ao longo da sua vida.
E, atenção, que Tonho tinha a falta de um dedo na mão direita!
Era um indivíduo daqueles que, onde quer que estivesse, criava uma aura positiva, de felicidade e boa disposição.
Talvez por isso lhe tenham colocado a alcunha de brincalhão alegre.
Ou palhaço alegre pelas costas, como alguns “amigos” diziam.
Mas ele não se importava. O que queria era ser feliz e fazer os outros felizes. Adorava fazer bobagens, palhaçadas para que se rissem e o vissem como um tipo bonacheirão e contente com a vida.
Os vizinhos costumavam dizer que a casa dele parecia um circo, tanta a brincadeira e alegria que de lá emanava.
Como tinha um jardim adorava fazer pequenas peças de teatro para os filhos dos vizinhos, mas os pais acabavam por vê-las também, já que gostavam de ver Tonho Semanas a imitar vozes como se de um verdadeiro artista de teatro fosse. Era um dom que tinha, mas nunca teve a sorte de ser descoberto por alguém.
Mas isso nunca o incomodara. Sentia-se feliz com a vida e isso é que era importante.
Seguia a vida sem que ninguém o importunasse, até que um dia tudo mudou.
Quando viu aquele homem fardado a tocar à porta da sua pequena quinta, nunca pensou no que o destino lhe reservara!
- Boa tarde, presumo que seja o Senhor Tonho Semanas, correcto?
- Sim, senhor. Mas entre, entre – disse abrindo o portão de par em par para que o agente da lei pudesse entrar.
- Obrigado, senhor Tonho! Presumo que saiba ao que venho!
- Hmmm, não! Sinceramente não, mas de certeza que me vai dizer.
- Pois claro, pois claro. Quero que saiba que nos chegou ao conhecimento de que o senhor possui toupeiras no seu jardim. Foi um vizinho seu que o comentou no café da vila.
- Sim, é verdade! Já tentei fazer alguma coisa, mas não consegui nada. Estão sempre a esburacar-me o relvado todo. Já não é a primeira vez que alguém se magoa.
- Pois, mas isso não é do nosso interesse. O que nos preocupa é que as toupeiras não estão registadas.
- Desculpe?!?!?!?!?!
- Não estão registadas. Com a nova lei, que saiu esta semana, o senhor tem de registar as toupeiras que se encontram no seu jardim e, mais importante, não pode adquirir novos espécimes, com o risco de ser preso. Sim, porque multado já o vai ser!
- Mas isto é de loucos!
- O quê!!!!
Ao ouvir isso, o agente da autoridade sacou do telemóvel e ligou para a Central.
- Atenção. Temos um 665. Temos um 665.
Ainda Tonho Semanas não tinha tido tempo de acabar uma frase com o tempo de duração do muito célebre “o rato roeu a roupa do rei da Rússia” já os agentes da autoridade o levavam preso e devidamente algemado.
Ainda contratou um bom advogado da praça, mas sem o saber o dito advogado era um acérrimo defensor dos direitos dos animais e não o ajudou, subtilmente, em nada, tendo Tonho Semanas sido acusado de posse ilegal, maus tratos, tráfico e escravatura de animais exóticos para fins ilícitos.
Foi parar a uma prisão de Alta Segurança e só de lá saiu meses depois para ser encaminhado para um hospital psiquiátrico, por lhe ter sido diagnosticado insanidade mental.
O Ministério, ao saber do sucedido, congratulou-se e deu como exemplo o caso de Tonho.
Entretanto as toupeiras proliferaram e dominaram todo o relvado de Tonho, tendo mesmo as mais antigas se mudado para dentro de sua casa.

8 comentários:

Vício disse...

tu arriscas-te a dar ideias ao governo, sabias?

será que o tonho, na prisão, apanhou chatos ou piolhos e agravou a pena?

Adriana disse...

E que toupeiras kkkkkk!!!

bjs

Teté disse...

Excelente conto, surrealista q.b.!

Mas sim, arriscas-te a que os gajos-da-caça-à-multa te roubem a ideia... :)

Beijocas!

Conversa Inútil de Roderick disse...

Pois é, vicio, qaulquer dia já nem se pode ter toupeiras no jardim!!!

Conversa Inútil de Roderick disse...

Adriana, cá por mim, foram as toupeiras que engendraram tudo!

Conversa Inútil de Roderick disse...

Teté, podes crer! Beijocas.

Maria disse...

Chego a acreditar que isso possa acontecer, viu? Dessa justiça do mundo em que vivemos já não duvido de nada...

Conversa Inútil de Roderick disse...

Maria, hoje em dia, já acredito em tudo!