Exibia orgulhosamente a sua t-shirt azul. Nela se podia ver um tigre em toda a sua potência, pronto a atacar a presa e, ao longo de toda a camisa, pequenas gotas de tinta cor de sangue representavam a crueldade do homem perante a besta.
Foi um enorme sucesso, a venda das t-shirts. A juventude aderiu em massa, tornando-se uma moda que ultrapassou em larga escala as imagens de Jesus Cristo, super-homem ou Che Guevara.
Eles tinham sido os génios de tão arrojada ideia. Tudo porque sempre tinham tido o sentido do dever quanto à preservação da natureza.
Tudo começara na vontade de preservar o Tigre de Bengali. Sabiam que só havia uma colónia desses belos animais, em estado selvagem.
Um dia, como bons activistas, resolveram juntar algum dinheiro e partiram para a Índia.
Decidiram defender, no campo de batalha, como diziam entre eles, o tigre, dos seus mais mortais inimigos, o caçador de peles e o traficante de órgãos para criação de afrodisíacos para o mercado oriental.
Já na Índia, compraram armas, para protecção, não fossem esses vis criminosos, os caçadores furtivos, resolverem retaliar.
Sem guias para os ajudar e sem um plano pré-concebido, partiram à aventura pela selva, esperando encontrar, a qualquer momento, caçadores furtivos em busca da sua presa favorita, o pobre e inofensivo Tigre!
Andaram dias pela selva, sem encontrar ninguém, até que uma certa manhã depararam com o que de mais belo existia, o Tigre de Bengali!
A colónia completa. Mesmo à frente deles.
Belos, imponentes, irradiando uma grandiosidade que nenhum outro animal possuía.
E com isso tudo, mostravam que... tinham fome.
Estavam ávidos de carne.
Era um ano difícil e as presas escasseavam.
Ao verem aqueles homens o instinto de sobrevivência disparou.
Começaram por os rodear e prepararam-se para um festim de carne e sangue.
Aflitos, sem hipótese de fuga, não tiveram outro meio, senão o ataque, como defesa.
Apontaram as armas e descarregaram toda a raiva do fogo mortífero naqueles belos e imponentes animais.
A selva encheu-se de um ruído ensurdecedor, devido à descarga brutal de pólvora. Encheu-se com um cheiro a mato e erva queimada,
Encheu-se de um sabor adocicado de sangue e de carne queimada no ar.
No final, apenas restou uma clareira coberta de corpos vazios de sangue e de vida.
Em silêncio, o grupo de amigos, carregou os outrora grandiosos seres, numa pilha e pegando-lhes fogo.
Olharam para as suas camisas azuis com um símbolo em forma de tigre e viram que estavam todas sujas de sangue!
Partiram sem proferir uma palavra.
Até que um quebrou o silêncio.
“Pelo menos ninguém se vai aproveitar das peles nem dos órgãos, já que queimámos tudo”.
Sorriram e consideraram, entre eles, que tinham cumprido o dever.
Como mataram os últimos tigres já ninguém se podia aproveitar daqueles belos animais para a feitura de casacos de peles ou afrodisíacos.
Chegaram à Europa e foram recebidos como heróis! Um deles lançou a moda das t-shirts ensanguentadas com o símbolo do tigre, que se tornaram um ícone de uma geração.
Enriqueceram, graças a essa ideia.
E já tinham outras em mente.
Ouviram falar do Lobo Ibérico. Já só havia uma colónia à mercê dos terríveis caçadores furtivos...
Conto de Paulo Roderick